08 de Março

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Por Michel Chebel Labaki – 

Há algumas coisas que não entendo. Não entendo como cerca de um terço da população brasileira, segundo as pesquisas, continua achando o governo Bolsonaro bom e ótimo.

Vi outro dia uma apresentação da pesquisadora Esther Solano, que entrevista aproximadamente de 3 em 3 meses, eleitores que votaram no Bolsonaro. Ela tem constatado, que, com exceção dos fascistas, uma grande parte está decepcionada e mesmo arrependida, mas que ainda assim apoiam por causa de bandeiras conservadoras. Bandeiras essas que ganharam as ruas e que tem hoje um certo empoderamento.




Não brigo com os fatos. Temos um terço da população apoiando o governo, um terço rejeitando e um terço achando regular ou indiferente. As variações das pesquisas nos últimos meses estão sempre dentro da margem de erro.

Há uma manifestação da direita marcada para 15 de março. A divulgação mostra que é claramente uma manifestação da extrema direita. Uma manifestação a favor de Bolsonaro e Moro, contra as oposições, contra o Congresso Nacional, contra o STF.

Bolsonaro apoiou a manifestação e logo voltou atrás, falando que tinha enviado a mensagem em caráter privado. De qualquer modo, ouvi de alguns apoiadores do governo Bolsonaro a seguinte afirmativa:

— A manifestação é contra a chantagem que o Congresso faz em cima do governo. Apenas isso. Esses cartazes propondo o fechamento do STF e do Congresso são uma bobagem.

Não sei como serão essas manifestações do dia 15. Se serão contra o Congresso, contra o STF, contra as oposições, a favor de um novo AI-5. Ou serão “apenas” para combater a “chantagem” dos congressistas?

Não importa muito. Manifestações mais importantes serão as de 8 de março, dia internacional da mulher.

Antes de comentar sobre as manifestações de 8 de março, quero falar um pouco de minha experiência pessoal.

Quando veio o golpe de 64 eu tinha 17 anos. Desde então participei do movimento estudantil, das lutas contra a ditadura, pela democracia, pelo socialismo, pela Anistia, pelas Diretas Já, pela reorganização partidária, junto com milhares ou milhões de pessoas. Após 1985 vivemos numa construção da democracia, com disputas eleitorais intensas, mas de certa forma tranquilas, perto do clima de ódio que existe hoje, principalmente a partir de 2.016 com o impeachment de Dilma, posse de Temer e eleição do Bolsonaro.

O que quero comentar é que, principalmente durante a ditadura e durante a redemocratização, os direitos das mulheres, dos gays, dos negros, dos indígenas e de outros grupos praticamente não eram falados pelos grupos ou partidos de esquerda. Havia até, pela minha memória, um certo convencimento de que esses problemas seriam resolvidos quando o socialismo e a democracia chegassem. Quanta ilusão!

De minha parte, graças aos céus, fui educado numa família em que não havia preconceitos e racismo. Então, esses problemas eu não tive que superar. Nunca tive preconceitos e nunca fui racista.

No entanto, fui alertado recentemente por minhas filhas, que eu simplificava a questão. Que eu, como branco e de origem na classe média, não tinha ideia de como era ser negro e da periferia e que eu poderia sim ter preconceitos, mesmo sem perceber. Não concordei com elas, mas refleti a respeito e tenho procurado entender o movimento negro em todas as suas dimensões.

Uma coisa que percebi é que os militantes do movimento negro, quando intervêm em outras esferas, por exemplo em qualquer reunião ou partidária ou sindical ou de qualquer outro movimento, conseguem entrar com uma força absolutamente maior e uma presença impressionante em suas colocações.

Da mesma forma, as mulheres. No Brasil há movimentos feministas há muito tempo, mas é relativamente recente a importância que os partidos de esquerda têm dado a essas questões.

Acho mesmo que os partidos de esquerda estão correndo atrás para não perder o bonde da história.

Os direitos das mulheres, a começar dos mais elementares, o direito de não sofrerem violência dos seus maridos, namorados, companheiros, pais e irmãos, o direito de não serem estupradas, o direito à vida, o direito a salários equivalentes aos dos homens, são questões hoje prioritárias.

Neste sentido, o dia 8 de março vem ganhando uma importância que extrapola a questão das mulheres.

O 8 de março, neste ano, será um ato não só de afirmação dos direitos das mulheres e também um ato de enfrentamento ao governo Bolsonaro.

Neste sentido, participarei no que puder, dessas manifestações, acho que pela primeira vez. Sempre apoiei o 8 de março, mas de longe. Este ano estarei junto.

Fora o fascismo! Fora Bolsonaro!

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