110 anos de Mario Quintana: Casa de Cultura tem programação especial

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Por Débora Fogliato, Sul 21 –

A Verdadeira Arte de Viajar
A gente sempre deve sair à rua como quem foge de casa,
Como se estivessem abertos diante de nós todos os caminhos do mundo.
Não importa que os compromissos, as obrigações, estejam ali…
Chegamos de muito longe, de alma aberta e o coração cantando!
(No livro “A cor do invisível”)

O nascimento do “poeta das coisas simples” completa 110 anos neste sábado (30), e a Casa de Cultura que leva seu nome preparou uma programação em sua homenagem. Nascido em Alegrete em 1906, Mario Quintana se mudou para Porto Alegre aos 20 anos para estudar, e viveu na cidade até sua morte, em 1994.

Um dos maiores poetas da história do Rio Grande do Sul – possivelmente o mais conhecido pela população –, Quintana nunca se casou nem teve filhos. O local que abriga o centro cultural que o homenageia não recebeu seu nome em vão: o poeta viveu grande parte de sua vida em hotéis, 12 deles no Majestique, edifício construído no início do século 20 que, nos anos 1980, foi adquirido pelo governo estadual e transformado na Casa de Cultura.




Antes mesmo de se tornar conhecido por suas poesias, Quintana foi jornalista e tradutor. Trabalhou no extinto jornal O Estado do Rio Grande e no Correio do Povo, cuja redação fica, até hoje, a uma quadra do hotel onde o poeta, na Rua dos Andradas. Como tradutor, notabilizou-se com sua impecável tradução de “Em busca do tempo perdido”, de Marcel Proust, além de ter trabalhado em obras de Giovani Papini, Virginia Woolf, Voltaire, entre outros.

Foto: Guilherme Santos/Sul21
Prédio que abriga o centro cultural foi a casa do poeta por 12 anos | Foto: Guilherme Santos/Sul21

Do amoroso esquecimento
Eu agora — que desfecho!
Já nem penso mais em ti…
Mas será que nunca deixo
De lembrar que te esqueci?
(No livro “Espelho Mágico”)

Mas o que realmente o tornou conhecido e amado pela população foram seus poemas, publicados em livro pela primeira vez em 1940, com “A Rua dos Cataventos”. Quintana expressou, em certa ocasião, que eram nesses escritos que estavam sua própria vida: “meus poemas são eu mesmo, nunca escrevi uma vírgula que não fosse uma confissão”.

Os poemas, sempre com seu estilo focado no cotidiano e nas “coisas simples”, por vezes são mais voltados ao público infantil, para o qual escreveu seis livros. Em 1948, lançou “O Batalhão das Letras”, em que explica o alfabeto de forma lúdica com recursos de linguagem misturando a didática e a poesia. Ao longo de sua vida, publicou mais de 20 livros, o último deles “Velório sem Defunto”, em 1990, já com 84 anos.

Mario Quintana
Quintana viveu no Hotel Majestique entre os anos 1968 e 1980 | Foto: CCMQ/ Divulgação

Mesmo com reconhecimento nacional, Quintana não conquistou uma vaga na Academia Brasileira de Letras, o que é até hoje considerado uma injustiça por muitos especialistas e escritores. Por outro lado, muitos colegas poetas apontam que não ter uma cadeira não diminui em nada sua obra e prestígio. Com sua habitual ironia e bom humor, Quintana encarou a situação segundo seus próprios versos do conhecido “Poeminho do Contra”:

Todos esses que aí estão
Atravancando meu caminho,
Eles passarão…
Eu passarinho!
(No livro “Prosa e Verso”, 1978)

Em 1994, já internado no Hospital Moinhos de Vento com uma infecção intestinal, Quintana morreu devido a insuficiência respiratória. Foi sepultado no Cemitério São Miguel e Almas em Porto Alegre, mas sua obra continua presente na vida dos moradores da capital gaúcha a partir de seu legado e da Casa de Cultura que carrega seu nome.

Foto: Guilherme Santos/Sul21
CCMQ preparou dois dias de programação em homenagem aos 110 anos do poeta | Foto: Guilherme Santos/Sul21

Programação

A CCMQ promove uma série de atividades gratuitas para celebrar a obra do poeta neste sábado (30) e domingo (31), com exposições, saraus, contações de histórias e mostras de textos de Quintana. Em ambos os dias, a Travessa dos Cataventos recebe a Mini Feira do Livro, das 11h às 20h, com um estande com livros somente de Mario Quintana e a presença de livrarias porto-alegrenses: Livraria Taverna, Sapere Aude, Ponto dos Livros, Morandi Livros, Editora Libretos, Padula Livros, Sebo Túnel do Tempo e Sebo Pensamento Nômade. No sábado, a partir das 15h, acontece a Ciranda de Poesia, e às 16h uma oficina de aquarela para crianças.

Ao longo do dia, o artista Vini Rodrigues fará intervenções performáticas sobre o poeta. A Casa de Cultura receberá, ainda, “food bikes” para compor uma praça de alimentação na Mini Feira. Já no domingo, o microfone poético da Travessa dos Cataventos estará aberto para intervenções poéticas públicas. Às 16h, está marcado o show de João Coimbra, cantando MPB. Para finalizar o dia, às 19h ocorre a abertura da exposição “Quintana Múltiplo”, que aborda a obra, itens da vida e histórias sobre o poeta. A visitação da mostra, no Térreo da CCMQ, acontece até o dia 15 de novembro. A programação completa, assim como detalhes sobre inscrições para as atividades, está no site da Casa de Cultura.

Veja mais fotos da Casa de Cultura:

 Foto: Guilherme Santos/Sul21

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