Oposição e velha mídia ocuparam os espaços e entupiram as saídas alternativas do governo. Pauladas por todos os lados cobriram os discursos e propostas.
Não bastasse a crise econômica que anda à solta por aí, elevando preços dos produtos, mesmo os de primeira necessidade, reduzindo ou parando produção, fechando portas de lojas e fábricas, botando gente para fora, escurecendo as janelas para o dia de amanhã.
Não bastasse esse quadro nessa quadra difícil que não deveria ter acontecido, pois o remédio está mais forte do que o doente aguenta, aplicado por uma equipe econômica mais financeira do que econômica.
Não bastasse o governo ter se aproximado do coro da direita por entender poder realizar uma pauta de programa econômico próxima das ideias, projetos, atividades e ações ao feitio daquele grupo.
Não bastasse essa aproximação com a direita ter vindo substancialmente diante do resultado das eleições, quando a presidenta eleita teria visto que quase metade dos eleitores viraram as costas para ela.
Gesto político, sim, mas de grandeza e sabedoria. Naquele momento, o pensamento ou se aproxima ou se rompe de vez. Um país dividido não soava bem e poderia redundar em desastre, um salve-se quem puder.
Não bastasse a mídia, a velha e carcomida mídia, ter também entrado no jogo reforçando o coro da direita com palavras, manchetes, chamadas e comentários.
Não bastasse essa mesma mídia.com, ou trocando de lado as palavras, a com.mídia, ou “comídia”, uma comédia de intrigas, meias verdades, invenções, repetições, todo o dia, todos os dias, de manhã, de tarde e de noite. Também de madrugada.
Não bastasse, enfim, mais nada em meio ao cipoal de mixórdia, desmandos, acusações, impropérios, baixo nível, não bastasse, não é que se chega a uma situação onde se correr o bicho pega, se ficar o bicho come?
Tipo deixar como está para ver como é que fica. O governo sem seu devido poder para re-arrumar a casa e a oposição sem a devida casa para arrumar seu poder.
Nossas avós já diziam, quando não tem remédio, remediado está. Assim, o governo faz força, mas não consegue avançar e a oposição estrebucha por todos os meios e lados, nada consegue, e não acaba nos tribunais.
A oposição perdeu as rédeas das manifestações, tomadas por ela de assalto em lances políticos de carona e oportunismo. As ruas ou cansaram de servir de papagaio de pirata ou se cansaram, entenderam que não passam das ruas seguintes. Afinal, ainda não se ganha no grito nesse país.
Já o governo abriu um buraco sem tamanho com a política econômica adotada. Não bastasse a insatisfação popular e a pressão política cobrando mais agilidade e ação do governo, a receita de sua equipe econômica não ajudou em nada.
Pelo contrário, afundou mais ainda a economia em resultados desanimadores e sem esperanças de melhora no curto prazo. O ano que vem, se vier bem, virá mal, porque as previsões não ajudam.
Há certamente que se ter uma análise mais detalhada e aprofundada a respeito dos movimentos políticos dos últimos anos no país. Mas, uma hipótese cabe aqui, baseada em observações gerais.
Se de um lado o governo não tomou em devida conta os movimentos duplos e concatenados da oposição e da velha mídia aliada, por outro achou que o apoio popular sozinho ajudaria a retomar mais tarde o comando das ações.
Oposição e velha mídia ocuparam os espaços e entupiram as saídas alternativas do governo. Pauladas por todos os lados cobriram os discursos, proposições e realizações do governo.
Se eram bons os resultados, a crítica desabava em cima porque eles poderiam e deveriam ser melhores. Se eram maus, a crítica deixava de ser crítica e passava a ser acusatória no sentido de apontar deslealmente desmandos, ineficiência, corrupção e incapacidade como se fossem reais, contínuos e flagrantes.
O conluio entre oposição e mídia pode ser hoje, enfim, avaliado em números, embora já se soubesse pelos cenários. Segundo Montenegro do IBOPE, dos 48% dos eleitores de Aécio, 15% votaram realmente nele, enquanto os 35% restantes votaram contra Dilma.
Pode-se, portanto, deduzir que nesses 35% estão os que não votariam de jeito algum na candidata e os que foram levados pela velha mídia a não votarem nela. Logo, não é incorreto concluir que a velha mídia ganhou mais votos para Aécio do que ele mesmo.
No fim das contas, as contas ainda não se fecham. Governo acuado, oposição nervosa. Um pedido de impedimento da Presidenta de ex-petista na Câmara para ser levado ou não a Plenário e uma ação no TSE de impugnação do mandato eletivo por abuso de poder político e econômico.
Enquanto essa pressão política e judicial estiver no ar, o governo pouco pode fazer para reagir e continuar o mandato. Boa parte de tudo isso se debita nas contas da oposição, até hoje inconsolável por não ter ganho as eleições.
Outra parte, porém, deve ser apropriada pelas contas do governo que não soube sair da armadilha política e ainda trouxe mais lenha na fogueira com a austeridade seguida pela equipe econômica.
Mas há um cenário de fundo mais alarmante. O pedido de impedimento na Câmara está nas mãos de Eduardo Cunha, ainda seu presidente. Ele é quem vai decidir se acata ou não. O seu jogo político é tentar negociar sua decisão com as ações do Procurador Geral da República via Dilma. Como se ela tivesse alguma interferência no caso, como se Janot fosse seu empregado.
Mas não importa, Cunha joga suas cartas e sabe até onde pode ir. Já o governo não, está literalmente nas mãos dele. E do TSE, ironicamente nas mãos de outro ex-petista, o ministro Toffoli. Feitiço contra o feiticeiro?
Enquanto isso o país parado, de mãos atadas. Se Cunha aceitar o pedido, Dilma será levada a arena dos leões por um parlamentar de ficha mais que suja, borrada, enlameada. Se assim for, manchete da velha mídia: feitiço vira contra o feiticeiro.
Se não aceitar, Dilma será livrada pelo mesmo parlamentar. Manchete: corrupção salva a Presidenta. Ironia do destino, o governo de petistas e apoiadores dependerem de um parlamentar com vários inquéritos abertos no STF e de uma representação apresentada ao Conselho de Ética da Câmara.
Oposição, incluindo setores do judiciário, e velha mídia querem acabar com o PT. Mas Dilma tem ficha limpa. Pedaladas não são crime, apenas infrações que, de resto, FHC e governadores também praticaram. A luz no fim do túnel está por vir.
*colaborador da Carta Maior