Por Fabio Oliveira Schmidt Capela, no Jornal GGN –
Comentário ao post: Uma análise das passeatas de hoje
Acho que valem algumas considerações extras sobre o que aconteceria após um potencial impeachment.
– Do apoio das ruas:
Acho seguro dizer que quem saiu às ruas nessa sexta para se posicionar contra o impeachment seria contra qualquer governo pós-Dilma que não assuma um viés progressista. Ou seja, muito provavelmente continuariam mobilizados.
Enquanto isso, tendo em vista como as manifestações de domingo passado trataram os políticos mais cotados para encabeçar um possível governo pós-Dilma, acho pouco provável que quem está indo às ruas pelo impeachment continue mobilizado para defender o governo que viria depois; tendo em vista que a maioria das pessoas entrevistadas dizem que o problema não é só o PT, e que muitas delas dizem que tirar a Dilma é só o primeiro passo, existe a possibilidade real de parte dessas manifestações continuarem contra um governo pós-Dilma.
Em resumo, um governo pós-impeachment provavelmente vai continuar sendo combatido por movimentos de rua, mas perderia os movimentos de rua a favor dele.
– Da capacidade de ação dos grupos sociais:
O governo atual conta com grupos agindo contra ele, mas os mais eficazes de forma dissimulada, tentando fingir que a ação é apolítica; a mídia, e parcelas do MPF e da justiça. Esses grupos não podem ultrapassar certos limites sem danificar, talvez de forma irreparável, sua credibilidade.
Os grupos que se posicionam contra o impeachment, e que provavelmente seriam contra um governo pós-impeachment, incluem MST, MTST, e os principais movimentos sociais, que até o momento estão sendo comedidos mas que (até para não ficarem desacreditados por fazer ameaças vazias) devem passar a agir com muito mais vigor após um impeachment, em especial se a pauta do congresso continuar contrária ao interesse desses grupos. Os freios que impedem os grupos pró-impeachment de se radicalizar mais do que já estão não se aplicam aos grupos contra o impeachment. Com MST, MTST, e as principais centrais sindicais agindo de comum acordo, eles tem força para paralisar o Brasil.
– Da inversão do ônus pelos problemas do país:
Após o impeachment, a conta por eventuais problemas sociais e econômicos deixaria de cair sobre o campo progressista e passaria a recair sobre a direita. Caso a crise internacional se prolongue — o que é possível, até provável — isso pode resultar no campo progressista chegando às eleições de 2018 mais forte do que se não houver impeachment.
De quebra, qualquer ação pós-impeachment dos grupos sociais progressistas no sentido de paralisar o Brasil também teria o ônus recaindo sobre a direita.
– Do risco de violência
A mídia, em especial a Globo, faria bem em lembrar o que aconteceu dia 24 de Agosto de 1954. O risco é real, em especial se qualquer coisa acontecer com o Lula.
– Do fator Lava Jato
Em um cenário pós-impeachment as forças políticas certamente tentariam brecar a Lava Jato; ela, afinal, parece já ter esgotado sua capacidade de provocar fatos contrários ao campo progressista, vide a necessidade de recorrer à divulgação patentemente ilegal de escutas para tentar atingir o governo. Ao mesmo tempo, ainda há muito a investigar. Assim, sua continuidade provavelmente seria altamente danosa a um governo pós-impeachment.
Mas a Lava Jato tem forte apoio popular, e aparentemente também interno no MPF e na PF, um apoio que parcialmente fugiu ao controle da mídia. A Lava Jato tem uma inércia que pode ainda danificar seriamente qualquer governo pós-impeachment.
O Moro é outra incógnita, um fio desencapado. A lógica política mandaria escondê-lo, tirar ele de cena, talvez até puni-lo por conta dos vazamentos a fim de resgatar parte da legitimidade do judiciário e do MPF que ele danificou, mas é difícil dizer se ele iria aceitar qualquer ação nesse sentido. Ele se acostumou aos holofotes, e certamente tem material coletado na Lava Jato mais do que suficiente para ferir, talvez de morte, partidos como PSDB e DEM, e possivelmente até para chantagear a Globo.