Por José Carlos Asbeg, cineasta e jornalista –
Meus pais me ensinaram: não desejar o mal a outra pessoa. Agora, eu pergunto: quantos judeus não desejaram a morte de Hitler? Quantos italianos não festejaram a morte de Mussolini? Quantos espanhóis não desejaram a morte de Franco? Quantos portugueses não desejaram a morte de Salazar? Quantos russos não desejaram a morte de Stalin? Quantos chilenos não sonharam com um duro fim para Pinochet? Estavam erradas estas pessoas ou apenas expressavam um sentimento humano de revolta pelas atrocidades de que foram vítimas diretas ou tiveram entes queridos assassinados? E se esse sentimento fosse de vingança pelo genocídio perpetrado por esses ditadores? É feio querer vingança?
Fui ensinado também a acreditar na Justiça. “Tarda, mas não falha”, sempre ouvi. Mas aprendi, também, e desde cedo, por conta própria, que no Brasil a Justiça tarda demais e falha muito. Quando não é absolutamente injusta, quando não se alinha com a desigualdade pornográfica que privilegia poucos e condena à miséria muitíssimos.
O que o STF fez quita-feira, 14 de abril, foi dar sinal verde ao golpe. Com as exceções de Marco Aurélio Melo e de Ricardo Levandowski, os outros ministros se mostraram covardes e cúmplices de um crime histórico. Medrosos que se aferram a regras jurídicas quando vivemos uma exceção democrática. Julgam pelo livrinho e não pela vida.
Apequeneram-se, juntaram-se ao que de pior existe na vida pública brasileira hoje em dia, pela omissão do que estava verdadeiramente em jogo: deixar o golpe prosseguir ou acabar com a farsa? Ao se convidarem para a festa da hipocrisia, lançam o Brasil numa vergonha mundial. A omissão e a covardia dos seis homens e duas mulheres que deram aval ao golpe vai custar caro ao Brasil. Deixaram um delinqüente comandar o impedimento de uma presidenta sobre a qual não pesa nenhum crime.
Hitler, Mussolini, Franco, Salazar, Stalin e Pinochet foram genocidas condenados pela história e pela humanidade. Os genocidas não dão valor à vida dos outros. Mataram milhões de pessoas que ousaram ser diferentes do que o delírio totalitarista deles concebeu como comportamento padrão para suas sociedades.
É assim que se comportam os totalitaristas brasileiros de plantão, cujos princípios de justiça, de igualdade, de cidadania se aproximam dos grandes assassinos do século XX e os tornam tão genocidas quanto os senhores acima citados. Sim, genocidas, porque quem tira dinheiro do povo, assina, em última análise, a condenação à morte de milhões de pessoas. Só não usam pau de arara, fuzilamentos ou fornos. Por enquanto.
De onde saiu o dinheiro que abasteceu contas escondidas na Suíça e em outros paraísos fiscais? Saiu do trabalho do povo brasileiro. Dinheiro roubado da educação, da saúde, da casa própria, da segurança a que cada cidadão brasileiro tem direito. Quem rouba merenda condena crianças à fome; quem rouba hospital, condena pessoas à morte. Quem rouba dinheiro público, enfim, condena cada brasileiro pobre a uma vida iníqua. Condena a uma vida sem direitos, sem perspectivas. Condena-lhes os filhos e os netos e todas as gerações futuras a uma vida mesquinha, miserável. Uma vida vazia, que se torna apenas uma luta desesperada e cotidiana pela sobrevivência.
Que sentimento devo ter para com estes brasileiros traidores da pátria, ladrões do povo pobre? É mesmo feio ter vontade de vingança? Ou feio é passar fome?
Não tenho o menor respeito por Eduardo Cunha, Michel Temer, Aécio Neves, Romero Jucá, Moreira Franco, Sérgio Cabral, Gilmar Mendes, Moro, Janot, Feliciano, Bolsonaro, Armínio Fraga, Malafaia, Geraldo Alkmin, Serra, FHC e outros deste tipo, não importa de que partido ou tendência política. Repito: NÃO TENHO O MENOR RESPEITO POR ESTA LAIA. Não fazem a menor falta em minha vida. Não representam em nada o sonho que tenho para meu país. São ladrões do futuro de minhas filhas e de minha neta. Então, por que tenho que ter apreço pela vida deles? Por que é um dever cristão? Por que é feio desejar o mal? Por que não é politicamente correto? Eles me torturam diariamente com os crimes que praticam e que ficam impunes. Devo dar-lhe s a outra face para que me espanquem? Não devo reagir?
O Brasil vai entrar em estado de desobediência civil. Não podemos dar sossego a estes bandidos. Nem a eles nem aos demais deputados traidores do Brasil. Canalhas que se aproveitaram do voto de quem lhes delegou uma função pública e que agora estabelecem uma nova ditadura.
O ditador Temer, se o golpe se consumar, será rechaçado e deixo aqui em alto e bom som o meu repúdio. Eu lhe considero um verme, um rato traiçoeiro. Não lhe tenho o menor respeito, ditador Temer, traidor Temer. Você e seu assecla Eduardo Cunha só merecem meu desprezo. Pulhas. Homens sem caráter. Pusilânimes.
Que sobre vocês caia a justiça popular à altura dos crimes que vocês cometeram e seguem cometendo com a cobertura de jornalistas vendidos, de empresários gananciosos, de juízes covardes, de parlamentares traidores do povo brasileiro.