Por Carlos Eduardo Alves, jornalista, Facebook –
Escrever sobre Ciro Gomes é um perigo. Meio que imitando o “Deus” pedetista, seus seguidores são agressivos ao extremo quando alguém ousa não apontar a obrigatoriedade de Ciro ser a única solução de todos os problemas brasileiros.
É comportamento parecido, justiça se faça, de petistas chapas-brancas, embora estes sejam menos selvagens. Os ciristas são poucos mas quase sempre iracundos.
O gerente do boteco aqui constatou, na última campanha presidencial, a fúria quando tratou com respeito a candidatura de Ciro, mas foi alvo dessa ira quando escreveu o óbvio, ou seja, que os votos de Haddad e do lulismo eram muito maiores que os inarredáveis e repetitivos 12% do ex-tucano.
Algumas pessoas apontam a cruzada obsessiva de Ciro contra Lula e tudo que leve a ele a só um ressentimento. Não é. Ciro opera, como foi escrito aqui desde a eleição de 2018, para se tornar o querido da direita brasileira que não gosta de Bolsonaro.
Mais precisamente, Ciro quer surfar na onda antipetista, hoje já um pouco menor. Ciro, embora ainda escore a brilhante oratória (na forma) num vago ideário de “centro-esquerda sensata”, quer mesmo ser o candidato de “centro” em 2022 e, ainda, ser assimilável pela direita convencional.
O último episódio, em que atacou os jornalistas Paulo Moreira Leite e Kiko Nogueira, mesclou ignorância factual derivada de ódio a uma leviandade rasteira.
Primeiro, nunca dei ou recebi bom dia de Kiko Nogueira. Já trabalhei com e conheço um pouco o Paulo. Segundo, respeito mas não gosto da linha de jornalismo militante dos dois veículos em que atuam os alvos mais recentes de Ciro.
Ressalvo que o DCM tem algumas coisas interessantes, como o “Essencial”, um resumo bacana de temas e fatos que são geralmente ignorados pela grande mídia. Não é o caso de se aprofundar qui, mas me incomoda muito as análises de esquerdismo raso e triunfalista que enganam gente da área popular e impedem uma reflexão crítica e mais inteligente, menos linear e maniqueísta.
Talvez a manipulação vergonhosa pela mídia hegemônica justifique um pouco as bobagens que muitas vezes são escritas em sites e blogs ditos de esquerda, Talvez.
Os dois jornalistas atacados poderiam ser criticados por Ciro por seu, é verdade, alinhamento automático ao PT e ao lulismo. Seria um ponto da disputa política legítima. Mas Ciro atacou a dignidade de Kiko e PML. Questionou a honestidade pessoal de ambos.
Jornalistas, um pouco por vício de profissão e outro tanto por serem seres humanos comuns, são “fofoqueiros” até sobre seus colegas. NUNCA ouvi qualquer insinuação sobre ato desonesto financeiro de Kiko ou Paulo. Já escutei sobre outros, mas nunca dos dois atingidos por Ciro.
O que Ciro fez só tem o nome de leviandade. Foi um gesto menor e covarde, vil. Não se ataca a honra de ninguém sem provas.
A irresponsabilidade é tanta que o eterno candidato a presidente fala sobre demissão de Kiko Nogueira na revista Época. Kiko nunca trabalhou lá. Por ignorância mesmo ou má-fé, talvez queria falar do falecido Paulo Nogueira, irmão de Kiko e sobre quem também nunca se apontou picaretagem.
Na ânsia de se cacifar com a direita atacando dois jornalistas que defendem posições próximas ao PT e a Lula, Ciro foi miseravelmente cafajeste e irresponsável.
Fica aqui a solidariedade do boteco a Kiko Nogueira e Paulo Moreira Leite, vítimas da ira de um político que se revela a cada dia mais oportunista, para desencanto de quem, como o gerente, um dia acreditou que o projeto de Ciro poderia se tornar coletivo.
Não, Ciro continua Ciro Futebol Clube, lamentavelmente.