Por Washington Luiz Araújo, jornalista –
Caro Chico Buarque, você sabe muito bem o que é lutar para mandar no próprio destino, assim como sabe de tantas rodas-vivas que mandam nosso destino pra lá!
Você, Chico, que lutou contra ditadura – da mesma que os atores e diretores da peça que você escreveu, espancados em São Paulo por trogloditas do Comando de Caça aos Comunistas – tem toda a razão do mundo para não querer que sua música faça parte daquele programa dito jornalístico, que bajula os golpistas atuais e enxovalha aqueles que vão contra a corrente.
Sim, Chico, a gente cultivou durante 26 anos a mais linda roseira que há, que é a democracia, mas, de novo, chegou a roda-viva que mandou a roseira pra lá. Mas vamos resistir. E resistimos inspirados em exemplos como o seu, que está sempre do lado certo, nas voltas do coração.
Não vamos, Chico, deixar que nossa luta seja uma ilusão passageira. Que a brisa traga de novo a democracia por ora usurpada, e que ela não deixe de soprar, para que não fiquemos apenas com a saudade cativa no peito.
Um abraço deste seu desde sempre admirador.
PS: Conheci um dos seus caros amigos, o Fernando Faro, e soube que foi ele que pediu para que a música fosse utilizada no tal do “Roda Viva”. Mas o Baixo, onde estiver, saberá compreender que não dava mais para mantê-la como trilha do programa de sabujos dos golpistas e algozes dos que resistem. Um programa daqueles que – licença para lhe parafrasear! – representam as ditas autoridades que “falam grosso com a Bolívia e fino com Washington.
Roda mundo, roda-gigante
Roda moinho, roda pião
O tempo rodou num instante
Nas voltas do meu coração
https://www.youtube.com/watch?v=ppFKfZGdI-I
Chico aqui fala sobre a peça e o espancamento dos atores
A atriz Cacilda Becker também fala do acontecimento