Carlos Eduardo Alves, jornalista, para o Bem Blogado –
Como qualquer criança antevia, Luiz Inácio Lula da Silva foi condenado pelo juiz Sérgio Moro. Como se diz entre jornalistas, até aí não temos notícia. Não pela desimportância do envolvido, óbvio, mas pelo fato de não haver outra expectativa. E, como todos adultos devem esperar, a sentença será confirmada pelo Tribunal em Porto Alegre.
É necessário ser explícito, já que algumas pessoas acreditaram que a absolvição em segunda instância de João Vaccari significaria uma mudança dos ventos no Judiciário. Não, não é isso que ocorre. E, sabemos todos, a inelegibilidade de Lula em 2018 é a cereja do bolo dos golpistas, mais ainda do que a deposição de Dilma.
De qualquer maneira, a condenação do líder petista cria um fato relevante demais. O que ocorrerá agora é a aceleração de prazos para que o tribunal gaúcho sele a inelegibilidade de Lula. Um recurso ao STF, aquele mesmo, no máximo garantirá ao escolhido pelo ódio da direita o direito de não ser preso.
Triste? Pessimismo? Realidade apenas. É o que temos hoje. Pode mudar? Sim. O quadro político no Brasil está tão fora da normalidade desde o golpe parlamentar contra Dilma que nenhum analista responsável pode cravar o que vai rolar no futuro próximo. Falemos, então, da possibilidade de reversão da decisão de Moro.
Mesmo depois que ficou claro o caráter conservador e direitista da imensa maioria do Judiciário, sabe-se que, em instâncias superiores, algumas vezes aparece o temor por decisões que contrariem a maioria da população. Sendo direto: só uma imensa mobilização nas ruas poderá incluir na urna de 2018 a fotografia de Lula. E, sendo direto mais uma vez, infelizmente não é esse o quadro atual. Mas pode mudar.
A agonia da quadrilha de Temer é maior a cada dia. A vergonhosa compra de deputados via emendas enquanto se esfola o Bolsa Família, por exemplo, atenta até contra setores golpistas. O nó da questão é transformar a indignação contra a gangue escorada no mercado em movimento popular. A “recuperação” da economia soa como um insulto a quem anda nas ruas das grandes cidades.
É desumanamente insuportável o aumento da miséria, dos moradores de rua, de brasileiros que caçam no lixo a esperança de comer alguma coisa. E não existe perspectiva alguma de alteração do quadro dantesco, apesar da blindagem que a equipe econômica imposta pelo mercado recebe da grande mídia e seus colunistas amestrados.
Mesmo que Temer seja substituído pelo sem-voto Rodrigo Maia, a reforma da Previdência, basicamente pelas manifestações de rua e rejeição popular, não será aquela planejada para exterminar definitivamente os direitos dos trabalhadores.
Nos grandes veículos de comunicação, já se dá como ponto único da tal reforma o aumento de idade para a aposentadoria. Já é um acinte em país em que grande parte dos cidadãos, especialmente no Nordeste, começam a trabalhar na infância, mas não será o genocídio social proposto pelos donos do dinheiro. Enfim, são dois movimentos casados contra a vontade de ambos. A degradação social e o caminho de Lula podem se cruzar.
Se depender da vontade do Judiciário, essa aberração que hoje manda no Brasil via figuras lamentáveis como Gilmar Mendes, o chicote contra os trabalhadores e a inabilitação de Lula vão seguir o script. Mas existe a velha pergunta: combinaram com o povo?
Se existisse hoje no país entidades, partidos ou movimentos muito fortes, o golpe não avançaria tanto em tantos campos. Não cabe aqui a discussão sobre a fragilidade momentânea desses entes. Ao contrário, é hora de louvar quem não se ausenta da batalha mesmo nas condições adversas. O importante, ou esperança, é que, no Brasil incerto, se a insatisfação majoritária rugir no asfalto, exista uma direção política que evite que a direita assuma o protagonismo, como aconteceu em 2013.
Lula impedido de concorrer em 2018 é a vitória definitiva do golpe. O momento é de reflexão curta e ação rápida. Não aceitar a parcialidade da Justiça é o primeiro passo. Está difícil a caminhada dos democratas, mas nosso caminho nunca foi fácil.
A sentença de Moro era esperada e não encerra o jogo. E o desastre oferecido ao país pela cleptocracia de Temer pode fornecer o gás para transformar a rejeição a um governo criminoso em rua para garantir o retorno ao estado de Direito.