Washington Luiz de Araújo
Em novembro de 2000, fomos à Cuba num grupo do qual fazia parte Luiz Inácio Lula da Silva. Foi uma semana em que conhecemos Varadero e Havana. Lula ficou a maior parte em reuniões com Fidel Castro.
Nós mandávamos recados perguntando da possibilidade de vermos Fidel, de conversarmos com ele.
Lula retornava, dizendo que havia a possibilidade, mas que nada era certo.
Voltaríamos numa segunda-feira logo de manhã e no sábado, final da tarde veio a notícia: Fidel nos receberia por alguns poucos momentos no domingo.
Foi um alvoroço total. Muitos nem beberam para acordarem bem. Eu bebi, e muito, com muito dos amigos e amigas, antecipando comemoração ao fato.
No outro dia, nos dirigimos ao Palácio da Revolução. Deixamos câmeras fotográficas na portaria, passamos por detectores de metais e fomos para o auditório.
A imprensa brasileira que estava presente e que já havia publicado no Brasil, em sua maioria, reportagens preconceituosas a respeito de Cuba, Lula e a nossa viagem, solicitou fazer parte do grupo, Fidel enviou a mensagem de que os receberia depois, pois com o nosso pessoal ele falaria com coração e com os jornalistas, falaria com a razão.
E para nós, mesmo de coração, falaria pouco, pois tinha outros compromissos ainda naquele domingo. Falou duas horas e quarenta e sete minutos, ininterruptamente. De pé, ao lado de Lula.
Falou da amizade que tinha por Lula, do apreço ao Partido dos Trabalhadores, ao povo brasileiro. Falou muito sobre os muitos atentados que sofreu desde 1959 (hoje, somam-se 637). Falou das adversidades com os Estados Unidos. Falou da revolução cubana…
Mais de 200 pessoas no auditório, muitos chorando de emoção em ver o grande líder revolucionário. Não posso omitir que algumas lágrimas me escaparam. Olhei para o lado e vi a nossa guia turística cubana, por supuesto, aos prantos, rosto coberto de lágrimas. Perguntei: mas você não vê sempre o comandante¿ E ela me respondeu entre soluços: “Sim, mas todas as vezes ele me emociona”.
Fidel presente. Sempre nos emocionará.
