Por Washington Luiz de Araújo, jornalista
Senti que o ar estava carregado assim que cheguei na Paulista por volta das 19 horas. E meu sentimento estava correto. Duas horas depois de minha chegada, já estava chorando e com olhos e garganta ardendo. Sentindo o cheiro do gás pimenta.
Quando cheguei, desci do Metrô perto da Fiesp. Fui para o outro lado da rua, pois sei da existência permanente do acampamento de fascistas na esquina com a Pamplona. E lá estavam meia dúzia de amarelinhos, gritando e berrando. Policias a 200 metros deles. Já próximo do Masp, onde a moçada contra o golpe se concentrava, o número de PMS, da tropa de choque e do policiamento ostensivo era excessivo. Armados até os dentes, como se fossem a uma guerra, fechavam a avenida.
Alí, foi conversado com os PMs que íamos até a Praça Rossevelt, descendo a Augusta. Já no meio da Augusta foi decidido que iríamos até o prédio da Folha de S. Paulo, na Barão de Limeira (centro). Foi conversado com o comando da PM, que pediu 10 minutos para que saíssemos da Praça Roosevelt.
E assim foi feito, mas na rua Rego Freitas, para quem não conhece, uma rua estreita que liga a Consolação ao Largo do Arouche, já nas proximidades do prédio da Folha, o inferno se configurou.
Alguém soltou um rojão de um prédio e a PM pulverizou o povão com gás lacrimogêneo e gás de pimenta. O pior: encurralaram os manifestantes, fechando a frente e o final de uma quarteirão. Poderia ter acontecido o pior, pois as pessoas em desespero corriam para todos os lados, com risco de serem pisoteadas, além da surra dos soldados.
Rescaldo: quatro menores presos (duas meninas e dois rapazes), que teimaram em bater lata no chão durante o tumulto. Todos com o rosto no chão foram rendidos pelos bravos soldados de Alckmin, algemados e trancafiados em viatura (vejam o vídeo e as fotos).
Os policiais desobedeceram o artigo 178 do ECA – Estatuto da Criança e do Adolescente, o qual impede que menor de idade, acusado de cometer ato infracional, seja transportado em compartimento fechado de veículo policial.
Soldados, cumpridores de ordens superiores, mas avessos à informação ao cidadão, também não queriam dizer para onde os garotos foram levados. “Vocês ficam me xingando e depois querem informações?”, me disse um dito homem da lei. Lembrei ao mesmo que ele tinha a obrigação de informar para onde os menores tinham sido levados, pois era um servidor público e que não deveria generalizar, pois ninguém daqule grupo faltou com respeito. Um tenente, sempre tem um da “turma do deixa disso” quando um PM se altera, informou o local.
Localizamos advogada ligada ao ex-senador Suplicy que se dirigiu até a delegacia para defender os adolescentes e varou a madrugada para soltá-los.
Como os policias do Choque se evaporaram no ar feito bomba de gás, como os policias que ficaram não respondiam o nosso questionamento sobre os motivos de se jogar bomba numa manifestação pacífica, sendo que o rojão veio de um prédio, ficaram no ar muitas dúvidas entre aqueles que ficaram em grupos conversando pelas esquinas. A dúvida principal: não teria a polícia armado tudo para que não chegássemos até o prédio da Folha?
Realmente era muito policial para uma simples manifestação. Não poderia dar outra coisa se não violência por parte de quem é pago com o nosso dinheiro para nos proteger.