Por Washington Luiz de Araújo, jornalista, Bem Blogado
Outro dia, estava “googando” para saber capacidade atual do local que os cariocas chamam, com muita sabedoria, de “onde era o Maracanã”, pois sabia que o número de mortos pelo coronavírus passava disso. Sim, o estádio hoje comporta 78.838 torcedores e, na época da minha pesquisa, final de julho, já chegávamos ao trágico número de 90 mil. E agora, cinco meses depois já chegamos ao número de 200 mil vítimas fatais, quase três lotações da atual construção, onde existia o estádio histórico. E só uma coisa continua igual: a indiferença do que está na presidência da República.
Outro dia, lembrei de uma palestra que assisti na década de 80, com o diretor de cinema alemão Werner Herzog, no Instituto Goethe, em São Paulo. Sempre simpático à todas as perguntas, Herzog só respondeu com amargura sobre o filme Fitzcarraldo, que ele realizou na selva amazônica, lembrando que três pessoas morreram durante as filmagens. Disse que poderia compartilhar de sua alegria e felicidade por coisas boas, mas com a morte, não. “Estes três mortos, infelizmente, vão estar minha consciência para sempre, e não poderei dividi-los com ninguém”.
Infelizmente, tem gente que não tem consciência. Logo, a inoperância, a omissão que parece planejada, o descaso, o sarcasmo forma uma crosta que impedem que as mortes pelo coronavírus penetrem na consciência do inominável.
São 200 mil mortos de 200 mil famílias com milhares de filhos e filhas, netos e netas, sobrinhos e sobrinhas, parentes que choram suas perdas e não vêem por parte de quem governa este país o mínimo de consideração.
O que ouvem: “Gripezinha”, desdenhando o poder de fatalidade do vírus; “E daí. Sou Messias, mas não faço milagres”, “Não sou coveiro”, quando questionado sobre o número de mortes pela Covid-19; “Histeria”, sobre as notícias de mortes; “Farei um churrasco”, tentando ridicularizar o isolamento social, fundamental para a não propagação da doença.
Portanto, só temos é que chorar os 200 mil mortos em 10 meses de pandemia e lamentar o fato de termos um comandante de Titanic que, ao mesmo tempo, é o iceberg e o rato que pula do convés enquanto o navio afunda.