2017, o ano triste

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Por Carlos Eduardo Alves, jornalista, para o Bem Blogado  –

Poderia se imaginar que dificilmente um ano seria tão péssimo como o de 2016, o que ficará marcado na História pelo golpe que destituiu uma presidente da República eleita pelo voto popular. Mas o nosso Brasil não falhou e honrou o ditado cínico que aponta que não há nada tão ruim que não possa ser piorado. Chegamos ao fim de 2017 com o maior desmonte social dos tempos recentes. Se consolo pode haver no panorama tão sombrio, que as duras derrotas dos últimos meses sirvam de lição e não alimentem somente a justa revolta.

A ascensão ao poder da quadrilha do PMDB, chefiada por Temer e Cunha, trouxe à tona um Brasil que por um momento imaginávamos imunes a tamanho retrocesso. Sim, numa penada eles conseguiram jogar na lata do lixo leis trabalhistas minimamente civilizadas, avançaram contra programas sociais de inclusão, aprovaram uma PEC que condena o país ao atraso mínimo de duas décadas, saquearam o cofre público em várias instâncias e ocasiões, enfim, nos apresentaram de volta ao mundo primitivo mas claro dos interesses divergentes de classes.




E querem mais. O assalto às aposentadorias, momentaneamente barrado, ainda não pode ser descartado e tem data a nova tentativa de impor a atrocidade. A desfaçatez para impedir a candidatura Lula ganhou uma pressa inédita e cínica e a entrega do patrimônio nacional foi acelerada. Os indicadores sociais desabam e já há pesquisador sério que antevê nossa dolorosa volta ao vergonhoso Mapa da Fome.

O atraso se estendeu a todos os campos. Nunca as mulheres, os gays, os negros e tantos outros foram tão perseguidos e ignorados em seus direitos. Jamais tantos ogros juntos perderam a modéstia e exibiram, com orgulho de muar, tanta ignorância. É de desanimar mesmo… mas só por alguns momentos.

Antes de tudo, as esquerdas têm que ter a humildade de reconhecer que estamos sendo derrotados. Não conseguimos barrar os horrores de um governo golpista, ilegítimo e antipopular. Não cabem, portanto, textos falando de uma resistência de grande porte. Muitos tentaram até agora, mas a verdade é que as mobilizações no campo popular foram pequenas em volume diante da barbárie. Se houvesse rua, por exemplo, não seria levada adiante a impugnação do líder em todas as pesquisas para a Presidência da República e nem o fim de leis que protegiam o trabalhador.

O jogo não está encerrado, porém, e 2018 começa no dia 25 de janeiro, após a contratada rejeição do recurso de Lula em Porto Alegre. A capacidade de resistência ao tapetão antipopular servirá de termômetro para outras duas batalhas decisivas que virão juntas, a tentativa de votar o desmonte da Previdência e as eleições de outubro. Defender o direito de Lula ser julgado nas urnas é abraçar a Democracia e dar legitimidade ao pleito presidencial. Fora isso, é só a cereja no bolo dos golpistas de 2016. Urna sem Lula é a sequência do golpe.

Existem alguns sinais que apontam para a dificuldade de a direita dar um ar de legalidade a atos institucionais espúrios. A busca desesperada, e até agora infrutífera, de um candidato viável eleitoralmente é reveladora, assim como a nova brincadeira ideológica, na verdade embuste, da grande mídia, de pintar como “centro” a velha e tradicional direita.

No campo econômico, todas as pesquisas mostram também que a esmagadora maioria da população não se deixa enganar pelo canto da sereia 171 que enxerga no voo de galinha alguma esperança no seu cotidiano.

O povo, especialmente o mais pobre, vê que a vida está piorando a cada dia e não haveria tempo, na velocidade que não será aumentada, de essa pseudo retomada chegar a tempo de salvar candidaturas amarradas ao governo Temer. Está aí Meirelles, se arrastando com 2% das intenções de voto, para provar que contra a realidade das panelas vazias não basta o Jornal Nacional anunciando o inexistente.

Enfim, o ano que se encerra foi feito mesmo de derrotas, mas a História não é um objeto inerte, pelo contrário. Se as saudosas condições objetivas para a reversão do quadro ainda não estão dadas, é verdade também que o final do jogo ocorrerá em 2018, mais próximo do final do ano.

Reconhecer a dificuldade atual não significa aceitar como inevitável a derrota. E há espaço político para impedir o triunfo da barbárie. Bom 2018 para o Brasil!

 

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