Carlos Eduardo Alves pelo Facebook – 

Desço para a rua e vejo um carro de Polícia e algumas motos da PM. Como sei que ali mora alguém da corporação, não dou importância. Algumas horas depois, eu e meu caçula encontramos na saída do elevador um vizinho, senhor de idade, que nos aborda meio que excitado:

— Você viu o que aconteceu no prédio em frente?

Digo que não e sou “informado” que a empregada doméstica de um apartamento se enforcara na sacada, na madrugada da virada ou na primeira manhã do ano. O idiota insiste para que a gente olhe a cena:

— Os patrões estão viajando e ela estava sozinha. Vai ver logo antes que retirem o corpo.

Argumento ao insensível que faz o convite mórbido extensivo a uma criança que não tenho interesse em ver um quadro tão triste assim e que só penso no desespero e na solidão que levaram aquela mulher ao suicídio. Ele faz cara de quem não entende nada ou, pior, que eu desprezara um convite imperdíve.

Uns 20 minutos depois, meu menino, obviamente chocado com tudo aquilo, retoma o assunto:

— Pai, aquele homem queria que eu visse uma coisa tão triste mesmo?

Meio que desconverso, mas acabo dizendo que no mundo existe mesmo aquele tipo insensível e de ligeirezas pequenas. E sigo, sem falar, pensando no desespero e na solidão que levam uma pessoa a se matar mostrando para todos os que passam na rua o seu fim.