Por Enio Squeff, Ateliê Squeff –
O estranho sobre o momento político brasileiro – “estranho” como eufemismo, por favor – não é que Michel Temer seja deposto, mas que o mesmo homem que derrubou Dilma Rousseff, um presidiário chamado Eduardo Cunha, continue comandandar o país e ponha, em seu lugar, um presidente que o povo não escolheu para tal. Esculhambação talvez seja apenas o novo apelido para o clássico “caos”. Mas não deixa de ilustrar a sem-vergonhice dos que, no fundo, mandam e desmandam no Brasil.
Sabe-se que não era tão escancarado assim na chamada República Velha. E que quando Getúlio Vargas comandou a Revolução de 30, para não muito tempo depois, em 37, dar o golpe, o roteiro era o de sempre: uma ditadura – a do Estado Novo. E que nem por isso Getúlio deixou de dotar o pais de algo realmente novo – como as Leis Trabalhistas que a elite brasileira teima em acabar seja como for. Não para substituí-la por algo melhor, mas para tirar do traballhador quaisquer direitos. Neo-escravismo, talvez, essa a palavra, ou antes, a mais valia absoluta, como diria Marx.
Nas “grandes rodas”, em todo o caso (televisionadas inclusive), não se discutem o que é bom para o povo. Nada de disfarces, pelo amor de Deus. A questão é o “mercado”. Como Temer não está conseguindo convencer esse ente supremo chamado mercado – esse neo-Moloch – despedi-lo, é apenas uma questão de dias: o tempo para Eduardo Cunha concluir seu manuscrito, desde a cadeia, denunciando o que já foi denunciado – mas que o livrará da prisão antes dos 15 anos a que foi condenado. Diga-se a bem da verdade, que o juiz Sérgio Moro já o tinha agraciado, com a absolvição de sua mulher – um dos absurdos em meio aos despropósitos da já não tão charmosa “Lava Jato”.
Mas que fazer?
Os destemidos procuradores e juízes de Curitiba, com os não menos corajosos ministros do STF, sabem que o homem, o ex-presidente da Câmara, possui dossiês alentados. Dá-se que resolva incluir o Judiciário em suas denúncias?
Tenho conversado com políticos e gente que entende do assunto: nenhum consegue prever o que irá acontecer nas 12 horas seguintes do Brasil. Dias atrás ganhei um livro em que professores, grandes teóricos, discutiam a crise brasileira. Espantoso. O livro foi editado a não mais que dois meses: quase tudo o que está lá escrito – opinião dos doutos mestres das mais importantes universidades brasileiras – foi amplamente superado pelos fatos.
Está certo: o PSDB pretende que Rodrigo Maia, no lugar de Temer, possa incutir mais confiança. Em quem, caras pálidas? Ao mercado evidentemente.
Ou seja, o que não se diz, nas altas rodas, é que só eleições diretas podem dissipar as nuvens de incertezas no país. Mas aí entra o fator Lula e, bem, então, só Deus ( ou o Diabo) sabe.
Entrementes, o que ninguém prevê é o que, talvez, esteja subentendido para os golpistas: que as eleições de 2018 não aconteçam. É o que ninguém ousa afirmar, mas…
Em tempo: lembro o pastor Silas Malafaia a chamar Eduardo Cunha de “gênio”. Não endosso a admiração e o carinho do homem de Deus ao outro homem de Deus, Eduardo Cunha, o do “Jesus.com“, mas devo admitir que a palavra gênio – ainda que “do mal” – não seja tão despropositada assim.