Os 60 milhões de desempregados, os economistas e o triste cenário

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Ontem, passando por uma banca de jornal com um amigo, observamos e ficamos estarrecidos com a chamada do Valor Econômico. Hoje, me deparo com este belo texto do Ulisses Capozzoli. Belo texto sobre uma realidade cada vez mais horrível (Washington Luiz Araújo). 

Por Ulisses Capozzoli, no Facebook

Economistas têm uma maneira particular de observar o mundo. Ao contrário dos físicos, que buscam um diálogo com a Natureza, os economistas pretendem que a realidade, o que inclui a Natureza (o Cosmos, não uma floresta ou o campo) se ajuste às suas ideias e concepções.




Não foi por acaso que, após ter lido os dois famosos (e equivocados) ensaios (número 1 e 2) do economista e pastor anglicano Thomas Malthus (1766-1834) o escritor, historiador, ensaísta e professor escocês Thomas Carlyle (1795-1881) chamou a economia de “ciência sombria”, epíteto mais que justificado.

O cenário demográfico que Malthus desenhou para o futuro era uma resenha do caos e da completa impossibilidade de sobrevivência, algo que os economistas continuam pregando ainda hoje. A alternativa que recomendam para evitar que seus delírios tomem forma na realidade social, não nos desvarios deles, são doses intermináveis de castigos e privações.

Alguém pode dizer que esse juízo é injusto para com os economistas, argumentação que se deve admitir. Há economistas e economistas e toda generalização traz em si certos grãos de imprecisão. Dois exemplos justificam essa exceção, para confirmar a regra.

Um deles, em escala internacional, foi o economista americano John Kenneth Galbraith (1908-2006), também filósofo e escritor, o que significa dizer: um homem de cultura. Outro, também com reconhecimento internacional, foi o paraibano Celso Furtado (1920-2004), um dos mais expressivos intelectuais brasileiros do século passado.

Galbraith foi um duro crítico das “extravagâncias e exotismos” de seus colegas, quando não confirmadas por dados empíricos. O que significa dizer, detectados por experimentos, como fazem os físicos e todo pesquisador submetido ao método científico.

Foram, Galbraith e Celso Furtado, cada um à sua maneira, homens comprometidos com o bem-estar social, preocupação com a dignidade e os direitos humanos que, nesses tempos sombrios sob a dissimulação da pura mediocridade, é considerado “esmola para miseráveis”.

A edição de ontem do jornal “Valor Econômico” trouxe como manchete de primeira página um dado estarrecedor, ausente de toda pretensa análise econômica que se faz em público.
Uma pesquisa encomendada pelo jornal, com dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (Pnad Contínua) do IBGE, detectou 15,2 milhões de lares onde nenhum membro da família tem trabalho no segundo trimestre desde duríssimo ano de 2017. Isso significa um aumento de 22% em relação ao mesmo período de 2014, antes do golpe legalizado desferido pela oligarquia saudosa da casa grande e senzala.

Considerando uma média de 4 membros por família, os 15,2 milhões de lares mostram um universo de 60,8 milhões de desempregados. Mais de quatro vezes os pretensos 13,5 milhões a que se refere os homens do “governo”, entre eles o ministro da Fazenda, que de chefão da JBS migrou para o cargo mais importante da administração econômica nacional como se isso fosse aceitável e natural.

Na verdade, os tais 13,5 milhões, na interpretação distorcida dos economistas, o que nos remete às considerações de Carlyle, são apenas aqueles que estariam procurando trabalho. Os que já desistiram, por falta de roupas adequadas, dinheiro para o transporte e alimentação mesmo precária, ou simplesmente os que perderam a fé na vida, deixam de ser contatos.

​Assim, nada mais atual que as considerações de Thomas Carlyle, que também foi educado para ser um pastor, preferiu a poesia de Goethe, os bastidores da revolução francesa e outros trabalhos que fizeram dele um homem comprometido com valores da civilidade.

Nada parecido com o rotundo Delfim Netto, que continua merecendo referências na mídia e nos bastidores do poder. Depois de tudo o que fez e desfez.

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