Por Carlos Eduardo Alves, Facebook
Minha vizinha de porta é uma velhinha que deve ter uns 85 anos. Mora sozinha. Caminha e enxerga precariamente. Todo dia, vai almoçar numa padaria bacanuda. É uma temeridade e sempre recorre a alguém para ajudá-la a atravessar a rua com seus passinhos hesitantes. Na volta, é entregue até a porta do prédio ou mesmo´do apartamento por algum funcionário da padoca.
Hoje a vi tateando a parede até o elevador, corri um pouco e ajudei-a até vê-la entrar em sua casa. Já estava na minha quando ouvi um gritinho. Era ela que ficou tonta. Perguntei se queria que eu ficasse um pouco com ela, recusou com delicadeza e com o que fala sempre a quem a auxilia, “Não precisa, meu filho, agora eu estou bem. Deus coloca vários anjos no meu caminho e assim eu vou levando”.
Evidentemente, ela não tem condições de morar sozinha. Os funcionários do prédio dizem que ela se recusa a mudar para a casa de um filho para manter sua rotina. “Ela é boazinha mas teimosa”, repetem sempre.
O que será que leva uma pessoa a viver uma roleta russa diária se pode ter opção mais segura? Sei que não são poucos os idosos que vivem essa situação por escolha. Minha mãe mesmo morreu aos 87 vivendo solitária em seu apartamento. Embora sua saúde fosse menos precária do que a senhorinha que vive a 1 metro de mim.
Será só a teimosia que namora a senilidade ou existe ser humano indomável mesmo na defesa da independência? Não sei. Só sei que às vezes me aflijo quando estou no corredor e não ouço som de tv ligada no ap.
Geralmente, pergunto ao porteiro e sou informado que ela acabou de ser atravessada por alguém na rua. Minha vizinha velhinha tem a coragem suicida que às vezes é exigida pela vida.