As duas vidas de Aécio: a que poderia ter sido e a que ele mesmo escolheu

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Por Cynara Menezes em Socialista Morena – 

O que teria acontecido com o neto de Tancredo se ele tivesse simplesmente aceitado o resultado da eleição em que foi derrotado?

FOTO: LULA MARQUES/AGÊNCIA PT

O que poderia ter acontecido:




26 de outubro de 2014. Derrotado na eleição por uma margem estreita de votos, o senador Aécio Neves saúda a presidenta reeleita Dilma Rousseff e anuncia que irá tirar alguns meses de férias com a família. Afinal, tem um casal de filhos gêmeos nascidos durante a campanha.

“Vou aproveitar para tirar um tempinho para mim, para a Letícia e pros meus bebês. Família em primeiro lugar”, diz Aécio, sorridente, ao embarcar para uma temporada de férias em Cancún, seguida de uma temporada de estudos na Califórnia. Durante a estadia nos EUA, Aécio é flagrado em cenas cotidianas, comprando fraldas no supermercado, andando de bicicleta e a pé, e concede inúmeras entrevistas aos jornais brasileiros, sedentos por estampá-lo em suas páginas, e também à imprensa estrangeira.

Em janeiro de 2015, mais magro e com aspecto saudável, Aécio volta à cena política como o grande líder da oposição. De forma republicana, rejeita as investidas de Eduardo Cunha para ajudá-lo a derrubar a presidenta eleita. “Tenho DNA de democrata, que herdei do meu avô Tancredo. Quero a vitória, mas quero nas urnas. Não me unirei a corruptos”, afirma o senador, repelindo também os chamados do vice de Dilma, Michel Temer, à conspiração.

Aécio volta à cena política como o grande líder da oposição. Rejeita as investidas de Eduardo Cunha para derrubar a presidenta eleita. “Tenho DNA de democrata, que herdei do meu avô Tancredo. Quero a vitória, mas nas urnas”

Na liderança da oposição, Aécio torna a vida de Dilma difícil, barrando todas as iniciativas do governo. Monta um governo paralelo onde analisa e rebate imediatamente cada medida anunciada pelo Planalto. Pede uma CPI sobre a política de preços da Petrobras, se junta aos caminhoneiros e faz brilhantes discursos semanais da tribuna do Senado contra a presidenta. O objetivo é transmitir aos cidadãos a eficiência de seu projeto diante do petista, que classifica como “antiquado”, “ultrapassado”.

Em viagem pelo exterior, se apresenta como o “novo”, ao lado de outros próceres liberais no mundo. Na Argentina, posa ao lado do presidente Macri. Na França, com Macron. No Uruguai, se encontra com Lacalle Pou, também derrotado, para um chimarrão. Fica íntimo do líder venezuelano Henrique Capriles. A imprensa os saúda como os “garotos de ouro” da nova direita.

Milhões de brasileiros identificados com o liberalismo enxergam no mineiro o seu modelo: dinâmico, audacioso, playboy. Embora nunca tenha dado duro na vida e deva a carreira ao sobrenome do avô, Aécio encanta os pobres de direita com seu discurso sobre meritocracia. Atlético, bronzeado, é constantemente fotografado nas praias do Rio de Janeiro nos dias de folga, sempre ao lado da família e de jogadores de futebol. Cada vez mais celebridades da música, da TV e do esporte viram “aecistas”. A atriz Luana Piovani lança uma coleção de camisetas infantis com a frase: “Não tenho culpa, mamãe votou no Aécio”.

Com o governo Dilma ainda mal avaliado pelos eleitores, Aécio Neves chega a outubro de 2018 em sua melhor forma e é um dos candidatos favoritos à sucessão, empatado tecnicamente com Lula nas pesquisas

O candidato derrotado à presidência se torna colunista de todos os jornais do país, de O Globo ao Diário do Amapá. Durante os quatro anos posteriores à eleição, o tucano soma mais de 50 horas de notícias positivas no Jornal Nacional, superando inclusive as notícias negativas dedicadas ao ex-presidente Lula. Aécio é convidado a opinar sobre política, economia e até sobre amenidades, como as últimas tendências da noite carioca. “Acho a batida do funk um barato, só não sei rebolar”, declara, gargalhando, ao lado da cantora Anitta.

Com o governo Dilma ainda mal avaliado pelos eleitores, Aécio Neves chega a outubro de 2018 em sua melhor forma e é um dos candidatos favoritos à sucessão presidencial, empatado tecnicamente com Lula nas pesquisas.

O que de fato aconteceu:

Inconformado com a derrota, Aécio pede a recontagem dos votos apenas quatro dias após o segundo turno, o que não dá em nada. Alia-se a Eduardo Cunha, a Temer e à Rede Globo para derrubar Dilma, e consegue. Em vez de honrar o mandato de senador como um político sério, dedica-se a pedir dinheiro ao empresário Joesley Batista, que chega a falar pelo amor de Deus para ele parar. Gravações com os pedidos vêm à tona, Aécio cai em desgraça e é limado da disputa à presidência. Aecistas de primeira hora começam a pregar que querem vê-lo preso. Como um fantasma em vida, o neto de Tancredo raramente aparece em Brasília. Às vésperas da eleição de 2018, não sabe nem se vai conseguir continuar no Senado, ameaçado de perder a vaga para… Dilma Rousseff.

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