Por Adriana Franco, compartilhado do Sindicato dos Jornalistas de São Paulo –
A comissão organizadora do Prêmio Jornalístico Vladimir Herzog de Anistia e Direitos Humanos acolheu, de forma unânime, as indicações do Sindicato dos Jornalistas Profissionais no Estado de São Paulo (SJSP) em homenagear a cartunista e jornalista Laerte e o jornalista Luiz Gama (in memoriam) em sua 42ª edição. A comissão decidiu ainda homenagear a filósofa Sueli Carneiro.
“O Sindicato dos Jornalistas indica a Laerte, pelo conjunto de uma obra genial, marcada pela defesa dos direitos humanos, sociais e trabalhistas. Trata-se de uma homenagem de grande importância para o mundo do jornalismo neste momento, pois os chargistas estiveram na mira de recentes ataques, seja a PM contra a Laerte e chargistas da Folha, seja o governo Bolsonaro contra o Aroeira, pela via da Lei de Segurança Nacional. E no prêmio “in memorian”, nos foi encaminhada uma proposta pela Cojira-SP (Comissão de Jornalistas pela Igualdade Racial de São Paulo), que subscrevemos com entusiasmo, a de homenagear o jornalista Luiz Gama, nome de destaque no movimento contra a escravidão no Brasil, com seu jornalismo potente e universal, combatido pelas elites da época, e ainda em luta por seu pleno reconhecimento. Submetemos seu nome à apreciação de todas(os), quando se marca o 190º aniversário de seu nascimento”, indicou o Sindicato em nota à comissão organizadora.
Desde 2009, a comissão organizadora do concurso entrega o Prêmio Especial Vladimir Herzog a personalidades pelos seus relevantes serviços prestados à sociedade, pelas contribuições à imprensa e ao jornalismo em geral e pela atuação em defesa da democracia, da paz e da justiça. Em 2019, foram homenageados Glenn Greenwald, Patrícia Campos Mello e Hermínio Saccheta (in memoriam).
Homenageados
Laerte é cartunista, ilustradora, roteirista, jornalista e uma das mais importantes artistas do traço do Brasil. Criadora de personagens emblemáticos como os Piratas do Tietê, Hugo Baracchini, Deus e Overman, Laerte se notabilizou por explorar temas relevantes da existência humana com um humor ao mesmo tempo refinado e mordaz. Junto de outros artistas de sua geração, como Angeli e Glauco, inaugurou um novo estilo na produção de quadrinhos, tornando-se um marco para o cartunismo brasileiro. Laerte atuou como roteirista em diversos programas de televisão e participou de diversas publicações como a “Balão” e “O Pasquim”. Também colaborou com as revistas “Veja”, “Piauí” e “IstoÉ”, além do jornal “O Estado de S. Paulo”. Desde 2014, publica charges na “Folha de S. Paulo” e atualmente milita no movimento LGBT. Em 2020, completa 50 anos de carreira.
Luiz Gama foi jornalista, poeta, advogado e um ativista incansável na luta contra o regime escravocrata. Gama deveria estar entre as figuras mais conhecidas da história brasileira, como um dos maiores – senão o maior – símbolo dessa época. Ativista da causa republicana e abolicionista, colaborou com diversos jornais denunciando violações das leis e erros cometidos por juízes e advogados contra negros e escravos. Não era diplomado, mas possuía uma provisão – documento que autorizava a prática do Direito – dada pelo Poder Judiciário do Império e foi um advogado autodidata com grande cultura jurídica e responsável pela libertação de dezenas de escravos. Em 2015, a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) concedeu o título de advogado a Luiz Gama, reconhecendo sua importância como jurista. Em 2018, recebeu, do Congresso Nacional, o título de “Patrono da Abolição da Escravidão no Brasil” e teve finalmente seu nome inscrito no livro dos heróis da pátria.
Sueli Carneiro é filósofa, educadora, escritora e porta-voz de uma geração e uma das maiores referências do país nos estudos sobre raça e gênero. Seu pensamento nos ensina como a vivência da mulher negra brasileira e o feminismo antirracista são fundamentais para as lutas pela democracia e pelos direitos humanos no Brasil. Sua contribuição para o jornalismo e para a comunicação vai além. Foi colunista do “Correio Braziliense” por quase uma década e, neste período, fez com que redações de todo o país passassem a abordar as temáticas raciais e feministas de uma forma mais humanizada, plural e libertária. É ainda a fundadora do Geledés – Instituto da Mulher Negra, organização que, desde 1988, se dedica à defesa dos direitos humanos sob a perspectiva racial e de gênero e se tornou uma referência nos conteúdos – inclusive jornalísticos – sobre o tema.
42º Prêmio Vladimir Herzog
A cerimônia de entrega dos troféus do 42º Prêmio Jornalístico Vladimir Herzog de Anistia e Direitos Humanos acontece no dia 25 de outubro e, neste ano, será feita de forma virtual. Para saber mais, clique aqui.
Atualmente, a comissão organizadora é composta pelas seguintes organizações: Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (ABRAJI); Centro de Informação das Nações Unidas no Brasil (UNIC Rio); Comissão Justiça e Paz da Arquidiocese de São Paulo; Conectas Direitos Humanos; Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (ECA/USP); Sociedade Brasileira dos Estudos Interdisciplinares da Comunicação (Intercom); Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB Nacional); Ordem dos Advogados do Brasil – Secção São Paulo; Ouvidoria da Polícia do Estado de São Paulo; coletivo Periferia em Movimento; Sindicato dos Jornalistas Profissionais no Estado de São Paulo (SJSP), Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj), Associação Brasileira de Imprensa (ABI) e Instituto Vladimir Herzog (IVH).