Plim-Plim

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Por René Ruschel é jornalista em Curitiba – 

A parcialidade com que mídia brasileira, notadamente a chamada grande imprensa, trata a eleição presidencial ultrapassa às raias do absurdo. Não se trata de nenhuma surpresa.




Em 2010, a presidente da Associação Nacional dos Jornais (ANJ), Maria Judith Brito, diretora do grupo Folha de S. Paulo, admitiu que os “meios de comunicação estão fazendo a posição oposicionista, já que a oposição está fragilizada”. Daí, vale lembrar o poeta amazonense Thiago de Mello que diz “aos que não sabem convêm contar; aos que esquecem, convêm lembrar”.

A Rede Globo de Televisão é o exemplo perfeito da sabujice da imprensa aos poderosos. Desde sua gestação na década dos anos 60 se curva aos interesses dos governos de plantão. Primeiro, garantiu a ascensão dos militares; depois, encobriu seus horrores na noite que durou 21 anos. A seguir, à medida que os interesses convergiam, escolheu seus algozes e protegidos.

Em 1982, ainda nas primeiras eleições diretas do período ditatorial, o governador Leonel Brizola só venceu no Rio de Janeiro porque denunciou um escândalo acobertado pela Rede Globo. A Proconsult, empresa responsável pela apuração dos resultados, manipulava votos brancos e nulos em favor do candidato oficial, Moreira Franco, que obviamente tinha o apoio da família Marinho.

Três anos depois manobrou a opinião pública ao não publicar em seus veículos as manifestações de rua favoráveis as Diretas-Já. Com a derrota da emenda Dante de Oliveira no Congresso Nacional, o presidente Sarney só nomeou o ministro da Fazenda, Maílson da Nóbrega, após o crivo pessoal do capo Roberto Marinho.

Em 1989, na primeira eleição após a queda do regime fardado, Fernando Collor de Mello derrotou Lula não só com o apoio da Rede Globo, mas com a conivência e manipulação nos debates e noticiários da emissora em favor de seu candidato. Os resultados todos sabem: Collor sofreu um impeachment e foi deposto pelo Congresso. Entre 1994 e 2002, o período Fernando Henrique Cardoso foi uma fase de bonança onde os favores e interesses eram recíprocos entre o tucanato e a Vênus Platinada.

Em 2002, foi obrigada a engolir o “sapo barbudo”. Em 2006, ensaiou uma nova tentativa de reagir com o chamado “mensalão”. Em 2010, Lula elegeu sua sucessora, a presidenta Dilma. Agora, em 2014, as forças midiáticas se unem para derrotar um projeto social popular em favor do sistema financeiro – o chamado mercado. Além da Globo, os jornais Folha de S. Paulo, O Estado de S. Paulo, O Globo e as revistas semanais Veja, Época e IstoÉ.

Uma saraivada de acusações até agora infundadas e sem provas, como o caso Petrobras, inunda as páginas impressas da mídia e os noticiários de televisão. O que se lê e ouve são depoimentos de presos acusados de extorsão que falam sob a condição de delação premiada.

Mas é preciso que, antes da divulgação dos fatos, a verdade venha à tona. Para a surpresa geral, o Poder Judiciário vazou o áudio desses depoimentos que deveriam ser segredo de Justiça.  Vazou justamente para os meios que combatem a reeleição da presidenta Dilma.

Não bastando, o macarthismo verde-amarelo começa a demitir jornalistas que ousam desafiar os barões da mídia. A Folha de S. Paulo e O Globo afastam profissionais que manifestam simpatia pela candidatura petista.

Em qualquer esfera de eleição, o papel da mídia é fundamental. Nenhum outro meio é capaz de influir tanto nos resultados das urnas. À imprensa, cabe cumprir sua função com grandeza e responsabilidade. É ilusão imaginar que o jornalista, como profissional e cidadão, não tem sua preferência. O mesmo se diz dos patrões. No entanto, é preciso que essa postura seja transparente.

Na maioria dos países ditos como “modernos do primeiro mundo”, os meios de comunicação assumem sua preferência por este ou aquele candidato. Nada acontece às escondidas do eleitor. No Brasil, com exceção da revista Carta Capital que sempre assumiu posições políticas claras, a grande imprensa se esconde sob o véu da mentira, da farsa, dos interesses econômicos e do poder político.

Um dos erros cometidos – aliás, crasso erro – pelo presidente Lula e repetido pela presidenta Dilma foi justamente não dar a atenção devida ao projeto do jornalista e ex-ministro da Secretaria de Comunicação, Franklin Martins, que regulava o papel dos meios de comunicação.

Não é possível que menos de seis famílias dominem a imprensa brasileira e se arvorem do monopólio da verdade. Não se trata de falta de liberdade ou controle de opinião como insistem seus donatários, mas de respeito à sociedade.

O que importa é democratizar não só o acesso à informação, mas garantir a liberdade de expressão com responsabilidade e, principalmente, modernizar e discutir um novo marco regulatório compatível com o cenário de convergência tecnológica. Reeleita, a presidenta Dilma deve, necessariamente, enfrentar essa agenda fundamental para o País, mas terrível para os que querem manter tudo como está.

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