Por René Ruschel em seu Blog –
Nem o mais otimista dos adversários do bolsonarismo seria capaz de imaginar que, em apenas 45 dias de governo (sic), uma verdadeira babel política estivesse instalada no Palácio do Planalto. Para o economista e professor Luiz Gonzaga Beluzzo, “a visão do governo atual é primária, tosca”. Aliás, nos últimos dias de campanha do segundo turno, o candidato Fernando Haddad confidenciou-me em entrevista que os projetos econômicos do então futuro ministro Paulo Guedes eram “desumanos”. As reformas da previdência e trabalhista bastam para comprovar a profecia do petista.
O caos começa pelo comandante do Titanic em curso, o ex-capitão Jair Bolsonaro. Chegou ao poder sem qualquer projeto político, econômico ou social. Sua performance maior foi gesticular com os dedos polegar e indicador as “arminhas” para garantir que, uma vez lá, prometia liberar o uso de armas para combater a violência. Justiça se faça: logo após a posse, cumpriu a promessa.
Comandou a mais sórdida campanha de toda história republicana. Paladino da moralidade e da ética, fez uso das redes sociais para mentir e caluniar. Fugiu de todos os debates. Não disse a que veio e muito menos o que pretendia. Vítima de um atentado nebuloso e pouco explicado em Juiz de Fora, MG, refugiou-se em um quarto do hospital Albert Einstein, em São Paulo. Um verdadeiro massacre pelas redes sociais fez do antipetismo e da prisão do ex-presidente Lula seu projeto de vitória.
Cercado por representantes dos interesses econômicos mais escusos e de lideranças religiosas retrógradas, que transformaram os púlpitos em palanques, Messias Bolsonaro arrastou uma multidão às urnas. O cenário do Brasil futurista já mostra seus primeiros contornos. Mas seus efeitos ainda não chegaram aos bolsos e mesas dos brasileiros – a maioria que o elegeu.
Poucos sabem o significado e consequências do projeto da carteira de trabalho “verde-amarelo”, ou então, dos interesses do mercado financeiro na reforma da previdência. Elevar a idade mínima da aposentadoria para 65 anos é o mínimo. O modelo que o ministro Paulo Guedes pretende implementar, copiado do Chile onde ele viveu e trabalhou, tem provocado um elevado índice de suicídios entre aposentados chilenos que não conseguem viver com o que recebem. Sim, é desumano. Enquanto isso, os banqueiros agradecem.
A política de privatização dos bancos e empresas públicas é o preço da fatura para ocupar o terceiro andar do Palácio do Planalto. Refém dos filhos, uma trica de reacionários que agora amedronta até os ministros militares, mostra-se incapaz de agir e contê-los em suas bizarrices. As denúncias de corrupção do assessor Queiroz permanecem esquecidas embaixo do tapete do gabinete do ministro Sérgio Moro.
A primeira crise surge com a demissão de Gustavo Bebianno, ministro acusado de desviar recursos do fundo partidário para a campanha do PSL, o partido de Bolsonaro. O temor em Brasília é que o ex-lutador de jiu-jitsu, humilhado e chamado pelo clã de “mentiroso”, abra o bico e conte o que sabe. “O Brasil pode tremer” avisou o quase ex-amigo.
Enquanto isso o Titanic navega à deriva. Recém-saído do porto de partida, tem um extenso caminho a seguir até 2022. O comandante resiste no timão até lá? Há quem aposte que não. A viagem é longa e os serviços de meteorologia preveem muitas tempestades em alto mar. A desenvoltura com que age o vice-presidente, general Hamilton Mourão, parece surpreender os menos avisados. Em política, uma lição básica é que, o vazio, o vácuo de poder, pode e deve ser ocupado rapidamente.
Governar o país não é um mero exercício de caserna, principalmente por alguém que não consegue sequer conter a impulsividade dos próprios filhos.