Minha mãe mandou uma mensagem para um amigo, que declarou voto em Bolsonaro, na qual ela pediu que ele se lembrasse do meu tio, irmão dela e amigo de juventude dele, que foi torturado na ditadura. O tal amigo de minha mãe rebateu dizendo que “se Bolsonaro não der certo, a gente tira”. Eu não sei se é ingenuidade, mas, supondo que seja e sabendo que outros pensam assim, vou dizer algumas coisas.
Michel Temer está há mais de dois anos no governo, com uma equipe ministerial que não tem nenhum vestígio do PT. Neste tempo, poucas pessoas foram às ruas pedir a saída dele e quando foram houve repressão.
Duas votações de impeachment de Temer foram levadas ao Congresso. Nas duas, Temer foi salvo. Por que, afinal, Temer não caiu? Será que seu governo “deu certo”? Por que, afinal Dilma caiu? Será que foi porque seu governo “não deu certo”?
O que é “dar certo” no Brasil? É saber fazer conchavos ou até comprar conchavos, como fez FHC para comprar sua reeleição? Será que o governo de FHC “deu certo” e por isso ele não caiu, apesar de eu e milhares terem ido às ruas para derrubá-lo? Será que, no Brasil, é mesmo o povo que derruba presidentes?
Agora imaginem um governo cujo vice é general e vários ministros serão militares. Alguém acha mesmo que será fácil derrubar esse governo?
Lula está preso devido à operação Lava Jato. Uma operação como essa era impensável na época do regime militar. Políticos que simbolizam a corrupção, como Paulo Maluf, jamais foram presos pelos militares, mas sim protegidos. Maluf, aliás, é o presidente do PP, partido campeão de investigados na Lava Jato. Foi nesse partido que Bolsonaro se criou.
Eu, sinceramente, não acredito que na atual conjuntura tudo isso que escrevo aqui possa surtir efeito. Faço isso apenas a pedido de minha mãe, triste porque se recusa a acreditar que tem um amigo fascista.