Por Matheus Andrade, compartilhado do site Vozes da Comunidade –
Iniciativa pretende levar acesso a internet de qualidade para vestibulandos negros e periféricos
Na favela do Jacarezinho, zona norte da cidade do Rio, o Núcleo Independente Comunitário de Aprendizagem, mais conhecido como NICA, criou na última terça-feira (09) o “4G Para Estudar”, para ajudar moradores da periferia com a cesso a internet. O projeto consiste em arrecadar pelo menos 100 mil reais que serão destinados para compra de pacotes de dados móveis para estudantes de pré-vestibulares comunitários espalhados pelo Brasil.
O sonho de entrar numa universidade está presente em muitos moradores das favelas, entretanto, o sistema de ensino que deveria ser um braço a auxiliar os estudantes a alcançar esse objetivo, acaba sendo a barreira mais difícil de ser superada. As condições desiguais no ENEM (Exame Nacional do Ensino Médio), já eram uma triste realidade, e que foram agravadas mediante as atuais condições do cenário de pandemia da Covid-19. Com isso, as salas de aula tiveram que ser substituídas por computadores, num país onde 70% das famílias mais pobres não possuem acesso à internet.
O NICA surgiu em 2019, possui esse nome em homenagem a avó do advogado e fundador do projeto, Joel Luiz Costa. Inicialmente seria voltado para alfabetização de adultos da comunidade. Joel se uniu a professores que já atuavam no Jacarezinho trabalhando em pré-vestibulares sociais, então NICA foi modificado, e passou a trabalhar também como um pré-vestibular social. O Núcleo se instalou em um espaço cedido pela associação de moradores do Jacarezinho, que se encontrava há mais de 10 anos abandonado, e foi reformado pelo projeto para atender aos pré-vestibulandos. No seu primeiro ano foram 28 matriculados e 5 aprovados em universidades. Atualmente são 32 alunos inscritos, e 14 profissionais de educação compondo o curso.
O professor da rede municipal de ensino do Rio, Luan Ribeiro de 28 anos, é o coordenador de relações institucionais e captação de recursos do NICA, falou sobre a campanha “4G Para Estudar” :
“Logo no início do isolamento social percebemos que os alunos estavam com muita dificuldade de acompanhar o conteúdo, por conta da falta de acesso a uma internet de qualidade. A grande maioria não tem wifi em casa e usam o pacote de dados, que é limitado. Devido a isso, eles não conseguiam acompanhar as aulas nas plataformas digitais, Google Classroom ou o Zoom. Percebemos essa problemática e pensamos em fazer algo para tentar minimizar esse dano, que ajudassem eles a não desanimar e estudar para o vestibular”
A campanha é do O “Meu Rio”, uma rede de ação, que acompanha e fiscaliza a atuação do poder público cidade, já auxiliou o projeto em arrecadações passadas, e vem novamente dando suporte ao NICA a nesta campanha de financiamento de pacotes de internet aos estudantes periféricos.
“É um reflexo da sociedade, só tem acesso as coisas se você possui capital, quanto menos, menores são as questões básicas de sobrevivência, como saneamento, não é um privilégio, é o básico, eque ainda falta. Muitos não sabem se quando voltar pra casa vão encontrar sua casa sem marcas de tiros. E o atual Governo, não faz questão de esconder isso, que é a exclusão da população periférica e preta ao ingresso nas instituições de ensino superior”, Falou Luan sobre o mantimento do ENEM mesmo com as circunstâncias em que se encontram muitos alunos de maior vulnerabilidade social.
As doações podem ser feitas clicando aqui.
Foto da capa:Grupo de vestibulandos em aula antes da pandemia. Foto: arquivo