Por Renato Flôr, jornalista, publicado em Espalha Fatos e Fotos –
Parecia passeio do HOG (Grupo de proprietários de motos Harley Davidson), só passei dos 100km/h na volta, quando me despedi do grupo e na descida, claro.
Recentemente, comprei uma Scooter 125 e, durante uma pesquisa para escolher a moto, conheci alguns grupos de aficionados por esses pequenos brinquedos (alguns não tão pequenos). São vários deles, têm grupos dedicados a marca, estilo e até ao modelo da “lambretinha”. Os participantes trocam informações técnicas, conselhos e rola muita ajuda em dúvidas mecânicas e de manutenção. É muito interessante, são grupos heterogêneos que acolhem desde o garoto que comprou a moto porque é barata até o “tiozinho” que, como eu, queria uma coisa mais urbana pra rodar.
Um desses grupos, o All Scooteres, organiza periodicamente passeios com seus membros para cidades da região metropolitana de São Paulo e quando os conheci estava rolando um para Holambra – SP. De imediato me interessei, seria uma grande oportunidade para testar a “motinho” – chamo a Burgman 125i assim, afinal minha outra moto pesa quase 400 kg – e encontrar as pessoas que me ajudaram. Porém, junho é mês de Tiradentes, na mesma data ocorre o encontro anual de motos, na cidade de Tiradentes – MG, que frequento há mais de 10 anos. Mas, o destino se incumbiu de me por na estrada com essa moçada. A hospedagem em Minas Gerais furou, fiquei sem ter onde ficar. Abortei Tiradentes e fui parar em Holambra.
Na página do Facebook eles se organizam, confirmam presença e divulgam a programação. Alguns dizem que levarão convidados e outros lamentam não poder ir, pelas minhas contas participaram do evento umas 40 scooters e cerca de 10 motos, também de pequeno porte, a maioria com garupa.
De São Paulo a Holambra, pelo percurso que a organização planejou, foram cerca de 140km, com várias paradas. São 50 motos na estrada, andando a média de 80km/h, em formação Daytona, duas a duas, intercaladas uma a frente da outra, como as marcas de passos deixados na areia, formando uma longa fila na faixa direita da pista.O ponto de encontro foi próximo a Lapa, na marginal Tietê, às 7h, sob um frio ártico. O grupo chega aos poucos. Nem todos se conhecem pessoalmente, coisa moderna: grandes amigos virtuais que nunca se viram. Um dos organizadores recebe as pessoas, apresenta uns aos outros e estes vão se juntando aos mais antigos, já velhos conhecidos. Por volta das 7h30 é feito uma reunião de briefing e a foto oficial. Aliás, o que não faltou foi foto oficial, em épocas de self tudo é motivo para foto.
Mesmo andando muito abaixo do limite de velocidade, toda vez que passávamos por um radar nosso guia, o líder do comboio que vai a frente do pelotão, levantava o braço esquerdo sobre a cabeça. Esse sinal é repetido, para que todos saibam da existência do radar. Essa é uma prática muito comum entre grupos que andam rápido, para evitar serem pegos pelo radar. No nosso caso, não seria necessário tal procedimento, mas vamos em frente.
Depois de algumas paradas para esperar retardatários e nos juntar a outro grupo da região de Valinhos seguimos para estrada. Muitos participantes carregam em suas garupas as namoradas, as scooters menores e menos potentes sofrem um pouco devido ao peso extra das companheiras e sempre que aparece uma subida o comboio perde velocidade. Mas, a essa altura o sol já apareceu e torna a viagem muito agradável.
A moderação na velocidade nos permite observar a paisagem e até cumprimentar as pessoas dos diversos automóveis que passam buzinando e acenando para os scooters. As crianças adoram.
Chegamos a Holambra, paramos nossas motos enfileiradas junto a entrada do Portal da cidade. É significativa a presença feminina no bonde (nome que se dá a um grupo de motos andando juntas), muitas com suas próprias scooters.
O sol a pino já ardia e, dali pra frente, não pegaríamos mais estrada. O lugar transformou-se num enorme camarim, todos tiraram suas pesadas roupas de frio e as guardaram nas motinhas. Isso mesmo. As scooters têm porta malas, uns maiores outras nem tanto, mas sempre cabe ao menos um capacete.
Fomos direto para a rua turística da cidade, um lugar charmoso, com suas fachadas coloridas onde funcionam simpáticos bares e restaurantes. Uma rua arborizada e estreita, por onde passa apenas um carro por vez. Nos finais de semana o local recebe grupos de motociclistas, muitos com suas ostensivas Harley Davidsons, vestidos a caráter, que param por ali para comentar a performance de suas motos no caminho. Enfileiramos as 50 scooters e imponentemente atravessamos a “passarela” com nossas pequenas máquinas. Não ficou um dentro dos bares e restaurantes, viramos a atração de Holambra.
Almoçamos e visitamos alguns pontos turísticos da linda e charmosa Holambra. Hora de partir. Parada no posto para abastecer. Imagine 50 motos chegarem de uma só vez num posto de gasolina, com talvez 8 bombas e três frentistas para atender. Parecia invasão, coisa de Walking Dead.
O engraçado é que a maioria, mesmo depois de percorrer 140 km, completou o tanque com menos de quatro litros de combustível. Um assunto era recorrente, todos falavam do consumo da sua moto. A minha fez inacreditáveis 43,5 quilometro por litro. Apesar de extremamente econômicas elas não têm muita autonomia, seus tanques são pequenos e cabe pouca gasolina, claro que nas maiores esse problema é bem menor.
A volta foi mais rápida, não que fomos mais depressa, paramos menos, apenas três vezes. No caminho, o pessoal que se juntou a nós em Valinhos seguiu para sua região. Já próximos a São Paulo fizemos a última parada pra uma foto final e as despedidas, certos de que em breve nos veremos novamente para mais uma vez juntar um bando de gente diferente, com suas motinhos em busca de um mesmo objetivo: ser feliz sobre duas rodas.
As fotos publicadas nesse post foram produzidas pelos participantes do passeio e publicadas no Grupo All Scooters, do Facebook