Por Carlos Eduardo Alves, jornalista, Bem Blogado
Que o Brasil faz alguns anos se transformou no paraíso de velhacos não é novidade para quem tem mais de quatro neurônios. Mas o que ocorre nos últimos dias mais do que confirmar o “tudo que é ruim pode piorar mais” remete a um estado de espanto tamanha a sem-sem-vergonhice. Sim, fala-se aqui do Judiciário e suas manobras cínicas para manter na prisão o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Pode-se dizer, mesmo sem conhecer os meandros de todos os outros países, que o Brasil chegou a Guinness, o Livro dos Recordes, no quesito avacalhação do Judiciário. Por mais que capriche, nenhum concorrente superará nosso País da triste toga enlameada.
Não há como escrever um texto (é com X, Moro) cordato para falar sobre o nosso momento. A escandalosa manobra da ministra Carmen Lucia para retirar da pauta da Segunda Turma do STF o julgamento do pedido de suspeição de Moro no caso do triplex junta-se à espantosa sucessão de revelações das trapaças cometidas por Dr. Conje e sua Corja para condenar Lula. É um espanto mesmo que algo dessa gravidade esteja ocorrendo mesmo em País que rompeu com a normalidade institucional desde o golpe parlamentar que apeou Dilma da Presidência.
Estamos, lamentavelmente, debaixo de uma ditadura branca de generais e das Organizações Globo.
O presidente do STF, o lamentável Dias Toffoli, cercou-se de militares em sua assessoria e a eles obedece. Que reação poderia haver, diante desse quadro de subserviência, quando um milico espuma e esmurra a mesa, dentro do Palácio do Planalto e diante de jornalistas amestrados, e “exige”, ignorando a separação de Poderes, que Lula cumpra “prisão perpétua”, que aliás não consta de nossas leis?
Alguma velhinha de Taubaté enxerga em Toffoli estatura mínima para zelar pela independência do STF? E a reincidência das manobras de Carmen Lucia, que já na direção da Corte fazia o que não podia para manter Lula na prisão?: Não, dessa gent e acocorada, que na verdade é comandada pelo “jurista” Merval Pereira, não se pode esperar nada, a não ser uma distante lata de lixo no julgamento da História.
Moro e o STF se merecem. As reportagens do site Intercept trazem agora em letras o que todos sabiam mas que carecia de prova documental. A Lava Jato foi, debaixo de uma capa enganosa de combate à corrupção, uma manobra desavergonhada para encarcerar Lula e impedi-lo de voltar à Presidência da República.
O conluio entre juiz e MP, numa verdadeira submissão do segundo ao primeiro, escandaliza qualquer calouro em faculdade de Direito. Aplica-se aí triste frase já registrada na História de arbitrariedades do País: “Às favas com os escrúpulos”.
O cinismo de Moro ao brincar de insinuar adulteração dos diálogos escabrosos juridicamente e, ao mesmo tempo, admitir suas conversas criminosas só é possível graças ao apoio que sabe contar de personagens como Fux, um bufão deplorável a serviço do humorismo sem graça na toga.
Para manter a população manipulada, acrescente-se ao caldeirão de imoralidade a cobertura das Organizações Globo ao caso. Cínica, mentirosa e jornalisticamente criminosa, tentando ater-se a um formalismo absolutamente secundário no lugar da gravidade antidemocrática do conteúdo.
Não, infelizmente a hora não permite otimismo para o Brasil e suas instituições. Nem no momento em que mais se atentou contra os ritos institucionais e democráticos, por ocasião do golpe que tirou Dilma do Planalto, os cínicos foram tão longe. Não existem limites para as mentiras, imposturas e manipulações.
É, em grau mais elevado de, permita-se o uso da palavra mais acertada para o caso, putaria como naquela gravação que flagrou Aécio Neves extorquindo empresário e até hoje o tucano pilantra está solto.
Moro e seus comparsas foram flagrados com o batom na cueca e, na degradação republicana que o Brasil sofre, ainda têm a cara de pau de falar em “combate a corrupção”.
Não é uma consideração política, mas parece mesmo, apesar da resistência de progressistas e democratas, que só sairemos desse pântano se Deus for brasileiro. Os ateus que perdoem, isso não desobriga os setores populares à luta, mas o drama é tamanho que não dá nem para pensar em dispensar ajuda fora do campo político.