Por Maria do Rosário, compartilhado de Brasil 247 –
Já era de conhecimento público o descaso de Bolsonaro na administração e no combate à pandemia. O papel da CPI, no entanto, está sendo o de evidenciar momentos e decisões que poderiam ter freado a contagem de mortos
Nunca antes Bolsonaro havia ficado tão desconcertado. Acostumado com seu circo de declarações abjetas e com um cerco de proteção daqueles que vergonhosamente o sustentam, sentia-se livre para governar o Brasil a seu jeito: desorganizado, descompromissado com os interesses nacionais e à vontade para promover a perversidade de suas ações. O Golpe contra Dilma ainda lhe dava lastros para fazer o que bem entendia. Toda a aparente tranquilidade começou a desmoronar, primeiro com o ressurgimento de Lula e, agora, com a eclosão da CPI que investiga as responsabilidades do Governo Federal na condução do combate à pandemia. Esta assombra o genocida à medida que o Brasil começa a conhecer o que Bolsonaro fez nos “verões passados”.
Seu desespero se desvela na tentativa vã de levar o Brasil a debater o escrutínio de voto de um sistema consagrado por sua lisura e eficiência. Cada aglomeração irresponsável que promove, com hordas vociferantes sem máscaras, é criada para tentar desviar o foco de uma verdade retumbante: ocorre um genocídio contra os brasileiros e brasileiras. Já era de conhecimento público o descaso de Bolsonaro na administração e no combate à pandemia. O papel da CPI, no entanto, está sendo o de evidenciar momentos e decisões que poderiam ter freado a contagem de mortos, que se aproxima rapidamente de meio milhão de vidas perdidas. As confirmações são gravíssimas:
- Ofertas da Coronavac foram recusadas pelo governo. Quando intenção de compra iria ser anunciada por Pazuello, as negociações pararam após críticas de Bolsonaro à vacina e à China;
- As propostas da Pfizer sobre a venda de vacinas ao governo federal ficaram meses sem resposta. Foram mais 100 milhões de doses oferecidas. Ao todo, foram 53 e-mails enviados sem qualquer retorno do Governo Federal;
- Houve tentativa, por parte do governo, de mudar a bula da cloroquina para indicá-la ao tratamento da covid-19. O medicamento, sem eficácia, provoca fortes danos colaterais e é defendido pelo presidente e seus conselheiros como tratamento para a doença;
- O Ministério da Saúde soube da crise da falta de oxigênio no Amazonas no dia 7 de janeiro, bem antes do que havia sido informado pelo Ministério da Saúde e nada fez para antecipar a resolução do problema;
- Um “ministério paralelo” interferiu nas ações do Ministério da Saúde e do SUS no enfrentamento à pandemia. O filho do presidente, Carlos Bolsonaro, participava frequentemente de reuniões, interferindo nas políticas públicas nacionais sem qualquer respeito à ciência e às boas práticas;
- Aconselhado pelo ministério paralelo, o governo adotou a tese da “imunidade de rebanho” como forma de enfrentar a pandemia. Ou seja, acreditava-se que a disseminação do vírus na sociedade geraria uma imunidade coletiva natural, desobrigando, assim, o governo a agir na prevenção e tratamento da doença e na compra de vacinas. Como sabemos, tal irresponsabilidade gerou milhares de mortes evitáveis, com meio milhão de famílias enlutadas por seus entes queridos;
- O festival de perversidades teve seu coroamento com campanhas oficiais e, especialmente, extra-oficiais, de desinformação e disseminação de fake news, promoção e incentivo a aglomerações desnecessárias, além de orientações inadequadas à população por parte do Presidente e sua equipe.
Este arcabouço de questões principais, aliadas a um conjunto extraordinário de comprovações produzidas até aqui pela CPI, comprovam o que dizíamos meses atrás: ocorre, no país, um genocídio deliberado, promovido por Bolsonaro, algo que começa a ser de conhecimento da comunidade internacional.
Este conjunto de fatos evidenciados pela CPI já são suficientes para a responsabilização do Presidente da República, algo que deve ocorrer em breve, quando do relatório da Comissão. Mas é importante lembrar ainda que para além da narrativa política, foi nas ruas que Bolsonaro construiu o genocídio que estamos vendo no Brasil. O incentivo ao tratamento precoce, o desencorajamento e desinformação sobre uso de máscaras e vacinação tiveram, e continuam tendo, impacto direto no comportamento da população em todo o Brasil, configurando um grave quadro sob absoluta responsabilidade do atual mandatário da República.
No entanto, até lá – a responsabilização de Bolsonaro – ainda há muito a ser feito. É apenas no início. Vejam que, semana passada, somente, foram determinadas quebras de sigilo que permitirão rastrear os interesses econômicos que motivaram o genocídio, entre os quais, as aquisições milionárias de lotes e mais lotes de medicamentos sem eficácia e os desvios de recursos do enfrentamento à Covid para promoção do governo em outras áreas.
As investigações estão, à recém, no início. Muito ainda está por vir. Enquanto isso, preparemo-nos: mais a caravana da morte de Bolsonaro irá ladrar. Quanto mais acuado, mais radicalizará sua pauta de barbaridades, afinal, a CPI assombra o genocida. Como deputada federal, trabalho pelo impeachment de Bolsonaro e deste governo todos os dias. Cada dia a menos, com Bolsonaro no poder, pode significar vidas salvas. Pense nisto.
Fora Bolsonaro!