Por Ricardo Kotscho, em seu blog, Balaio do Kotscho –
“Você não é o Kotscho, aquele da televisão? Te vi ontem…”
A abordagem começa mais ou menos assim, depois vem a inevitável pergunta: “O que você acha que vai acontecer?” A maioria nem espera a resposta, que, aliás, não tenho, e já vai logo dizendo o que pensa da situação, já que agora somos um país em que todo mundo entende de política, economia e até de quem deve ou não ir para o Supremo Tribunal Federal.
Pois é, depois de velho, agora estou ficando famoso, sendo reconhecido em lugares públicos, por culpa do Jornal da Record News, do Heródoto Barbeiro. Como tudo na vida, isso tem o seu lado bom, o reconhecimento profissional, e o lado ruim, a perda da privacidade. Alguns até pedem para tirar selfies…
Nunca tinha acontecido isso comigo antes, nos longos anos em que trabalhei na imprensa escrita. Como sou comentarista político na TV, as pessoas querem falar de política, claro.
E como o clima de Fla-Flu da última campanha eleitoral não acaba nunca, principalmente aqui em São Paulo, onde todo mundo já tem suas opiniões definitivas, quase todas condenando o governo petista, geralmente só querem saber quando e como a presidente vai cair, pois já não têm dúvidas disso.
Para quem me acompanha há mais tempo, e lê este Balaio desde que foi criado, faz quase oito anos, não é novidade o que escrevi no título deste artigo. Nunca mudei de lado nem escondi o que penso, e sempre fui franco com os leitores, internautas e, agora, telespectadores, procurando preservar a minha liberdade e independência profissional.
Só que tem gente que, simplesmente, não aceita o fato de eu sempre ter votado no PT e trabalhado como assessor do ex-presidente Lula, chegando a ocupar o cargo de Secretário de Imprensa e Divulgação nos primeiros dois anos do seu governo.
Deixei o Palácio do Planalto há mais de dez anos, em novembro de 2004, por razões estritamente pessoais, e me orgulho do trabalho que fiz lá, mas até hoje o pessoal me cobra quando algo de errado acontece no governo federal, em qualquer área, como se eu fosse responsável pela crise que estamos vivendo: “Ah, mas você votou na Dilma, é amigo do Lula…” E daí? Qual é o crime?
Outro dia, um motorista de táxi até estranhou quando, no meio de uma conversa – sobre política, claro – eu disse em quem tinha votado nas últimas eleições. “Nossa, você é o primeiro que entra nesse carro e confessa que votou na Dilma. Não tem mais ninguém com coragem pra falar isso…”.
Não só eu, mas outros 54 milhões de brasileiros votaram em Dilma na eleição de outubro, e meu voto vale tanto quanto o de qualquer um deles, ou seja, um voto. Sumiram todos?
Sei que hoje tem muito mais gente contra do que a favor do governo, com largos e justos motivos para se queixar, mas não me arrependo do meu voto, diante das opções que a urna eletrônica me oferecia naquele momento, pois, ao contrário de outros jornalistas, não tenho o dom de prever o futuro e me limito a ver e contar o que está acontecendo, que é o ofício do repórter. Nada me garante que, se a oposição tivesse vencido, o Brasil estaria hoje vivendo dias melhores.
Vida que segue.