Carlos R. Hahn, poeta e escritor
No barzinho em frente à praça, ao lado da livraria uns bolsominions e outros ignorantes abraçavam Daniel Silveira, parabenizando-o pela medalha da Ordem do Mérito do Livro, recebido da Biblioteca Nacional.
Entre bebidas e salgadinhos, nas suas risadas e falar elevado, nem perceberam a entrada de um senhor, vestindo uma gabardine que saíra da livraria.
Ele chegou à porta e gritou:
– Quem preza a sua vida, fique mais pra trás. Eu tenho na mão uma arma que já matou muitos ignorantes como vocês. Não se atrevam.
O pavor se instalou entre os festejadores. Daniel, tremendo de medo, perguntou ao bovino ao seu lado que arma ele usava. O vacum respondeu que não conhecia esse tipo de arma.
Alguém do rebanho sussurrou a um colega:
– Acho que foi errado a gente apoiar o armamento das pessoas. Esse cara parece aqueles abilolados dos EUA que entrem em locais públicos e saem matando todo mundo.
– Mas é com pistolas, fuzis e revólveres, disse outro.
– Mas a arma dela parece mais letal. Nem cano ela tem.
– Parem com os cochichos ou vou ter que ter que usar isto, balançando a estranha arma, disse o invasor.
Um corajoso entre os imbecis avançou e caiu morto como fosse alvejado pelo machado de Raskolnikov. Outro, no mesmo rompante, caiu cheio de balas como Jango, de Simões. Junto com eles, uma gorducha, morreu baleada na perna por um tiro de Fabiano, do Graciliano.
Os demais, apavorados, se acalmaram.
– Há mais algum que queira bancar o herói?
A tremedeira era geral. Um dos restantes cochichou ao Daniel. Vai tu cara, tu é bombadão, tu tá sempre ameaçando. Vai, te consagra. Daniel cada vez recuava mais. Levantou-se um odor característico das batalhas. A calça bege de Daniel mostrava uma mancha marrom, nos fundilhos.
– Já que tu não vai, vou eu. Avançou e teve seu fim. Ficou emparedado feito Fortunato, de Poe.
Restavam o merdalhado Daniel e uma moçoila toda vestida de verde e amarelo, parecendo o veio da Havan ou o Abobado Nunes.
O indultado pelo Bozo empurrou levemente a mocinha, que se adiantou trêmula. Também não teve sorte. Morreu à faca, feito Diadorim no embate com Hermógenes.
Daniel era um tremor só. Nisso, um garçom que se atreveu a espiar pela porta da cozinha, gargalhando, disse:
Deixa de ser covarde, Daniel. O que ele tem na mão é um livro.
Aí o agraciado pela Biblioteca Nacional tomou coragem e avançou.
– Pelos poderes do livro e da medalha que recebi.
Deus apenas dois passos e tropeçou. Tinha uma pedra no meio do caminho. Bateu a cabeça, que fez um barulho oco, e morreu.
O sujeito (um professor) com o livro na mão agradeceu:
– Obrigado Drummond.