Cartazes foram grandes meios de divulgação popular da campanha O petróleo é nosso
Compartilhado da Revista Pirralha
Após ampla mobilização popular, em três de outubro de 1952 o presidente Getúlio Vargas oficializa a criação da Petrobras, a empresa estatal de petróleo. No ano anterior Getúlio havia sido eleito pelo voto popular o novo presidente da República e um dos grandes desafios de sua gestão era a questão do petróleo que, dada a sua importância central como matriz energética mundial, tornava o controle sobre estas reservas um fator estratégico para o desenvolvimento nacional. A nação brasileira debatia a melhor forma de encarar a questão do petróleo há mais de uma década quando Vargas enviou ao Congresso o projeto para a criação da Petróleo Brasileiro SA (Petrobras).
No entanto, o projeto não previa o monopólio nacional e reservava espaço para uma porcentagem de investimento estrangeiro na área. o que desagradou aos nacionalistas e anti imperialistas que defendiam a nacionalização. Assim tem início uma movimentação de rua para alterar o projeto, impedir a exploração estrangeira de petróleo em terras brasileiras e surge o slogan que se tornou famoso; O petróleo é nosso. Inicialmente capitaneadas pela União Nacional dos Estudantes (UNE) e pelo Centro de Estudos e Defesa do Petróleo e da Economia Nacional (CEDPEN) a campanha foi se ampliando e tornou-se uma das maiores mobilizações de massa da história brasileira, a ponto de Getúlio Vargas passar a defender também o monopólio estatal.
Dado o caráter popular do movimento foi uma questão de tempo para que a mobilização migrasse do campo político e econômico para o cultural inspirando os mais variados criadores em diferentes campos artísticos que passaram a abordar o assunto em suas obras.
As artes, particularmente as ilustrações, foram uma das mais importantes armas que garantiram a vitoriosa campanha do petróleo
Uma campanha popular
Um do principais responsáveis por tornar o debate público em torno da exploração de petróleo em terras brasileiras foi o escritor Monteiro Lobato que em 1937 aproveita os seus já conhecidos personagens do Sítio do Picapau Amarelo e lança o livro O poço do Visconde, onde os habitantes do famoso sítio acabam por encontrar petróleo nas terras de Dona Benta. A primeira edição da obra, que tinha o subtítulo geologia para crianças, foi ilustrado pelo desenhista Belmonte. A publicação foi muito criticada à época pois os técnicos do governo afirmavam que simplesmente não existia petróleo no Brasil, o que não convencia Monteiro Lobato que desde os anos de 1920 defendia que o país precisava explorar petróleo em suas terras para alavancar o desenvolvimento nacional, isto lhe rendeu, inclusive, um período na prisão em 1941, motivado pelas duras críticas feitas à inércia do governo em obras como O escândalo do petróleo (publicado em 1936) e vários artigos na imprensa: o escritor já havia traduziu o livro do suíço Charley Frankie, A luta pelo petróleo, em 1935.
Outra manifestação artística que embarcou na campanha da nacionalização do petróleo pegando uma carona no alcance popular do tema foi o cinema brasileiro. Em 1954 é lançado o filme O petróleo é nosso, produzido e dirigido por Watson Macedo, o grande nome das comédias populares, as chanchadas como eram popularmente conhecidas. A fórmula de sucesso destes filmes era parodiar os acontecimentos do momento em roteiros simples, com cantoras e cantores do rádio e comediantes geniais como Oscarito e Grande Otelo. O petróleo é nosso, uma produção de Watson Macedo através da sua própria produtora não foge à fórmula consagrada e narra a história de um empresário desonesto, dono da Petroneca, que pretende enganar uma fazendeira e comprar suas terras ricas em petróleo. Apesar de não contar com os grandes comediantes da época o elenco tem vários números musicais com figuras importantes da música brasileira como Emilinha Borba, Linda Batista e Ivon Cury, além da estrela do teatro de revista Virgínia Lane. Ancorado sobre a questão do petróleo o filme, que não integrou oficialmente a campanha da qual empresta o título, acabou por uma destas coincidências do destino sendo lançado em 26 de julho de 1954 , menos de um mês antes do presidente Getúlio Vargas, personagem principal da criação da Petrobras, se suicidar em dia 24 de agosto.
A prova de que o debate sobre a defesa do petróleo havia se popularizado e conquistado a opinião pública e não apenas os diretamente envolvidos na polêmica foi que o assunto virou até literatura de cordel na voz de José João Santos, o Mestre Azulão, paraibano que chegou ao Rio de Janeiro na década de 1940 e foi um dos fundadores da Feira de São Cristóvão, oficialmente Centro Luiz Gonzaga de Tradições Nordestinas. Na feira ele se apresentava em uma barraquinha com seus folhetos (estima-se que tenha impresso cerca de 400 obras além das inúmeras poesias nunca registradas). Mestre Azulão, tido como um dos mais importantes cordelistas do Brasil, faleceu em 2016 aos 84 anos.
Pegando carona na “tradição” cultural surgida da defesa da nacionalização do petróleo e da Petrobras a Revista Pirralha também comemora os 70 anos da empresa.
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