A árvore de Natal voltou, e a despoluição da Lagoa?

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Investimentos na coleta de esgoto e na recuperação da flora melhoraram a região, mas solução ambiental definitiva permanece distante

Por Agostinho Vieira, compartilhado de Projeto Colabora




Há oito anos, em dezembro de 2015, o #Colabora publicou uma reportagem com o seguinte título: “Quanto custa a árvore de Natal?”. O texto comparava o investimento feito ao longo de 20 anos na festa de Natal da Lagoa Rodrigo de Freitas, na Zona Sul do Rio, com o custo dos projetos de despoluição da lagoa, que seguiam engavetados pela Prefeitura, mesmo às vésperas dos Jogos Olímpicos de 2016, que teriam a cidade como sede. O famoso Natal da Lagoa, que na época era patrocinado pela Bradesco Seguros, incluía shows com artistas famosos, fogos e uma estrutura de 85 metros, com luzes e cores, que chegou a ser considerada A Maior Árvore de Natal Flutuante do Mundo. Sem dúvida, um evento, que passou a fazer parte do calendário da cidade.

Ao longo desse tempo, o Natal da Lagoa mudou muito, a Bradesco Seguros desistiu do patrocínio, outros poucos apoiadores surgiram e algumas vezes a Árvore sequer foi montada. Em 2023, ele voltou: menor, são só 30 metros de árvore e 10 dias de festa; mais fechado, acontece apenas no Lagoon; e com menos gente, só cabem 5 mil pessoas por dia. Os cartazes espalhados pelas ruas citam três patrocinadores: Light, Secretaria de Turismo e G20. Difícil entender o que o G20 está fazendo nessa história, mas no Diário Oficial do Estado, do dia 5 de dezembro, foi possível saber que a Secretaria de Turismo contratou, sem licitação, a Dream Factory Comunicação e Eventos S.A, organizadora da festa, por R$ 4,4 milhões. Se os outros dois apoiadores estiverem investindo o mesmo valor, teremos R$ 13,2 milhões para 10 dias de festa, ou cerca de R$ 1,3 milhão por dia.

Caro? Barato? Difícil dizer, depende das prioridades da cidade. Na reportagem de 2015, descobrimos que os 20 anos iniciais de Natal da Lagoa teriam custado alguma coisa entre R$ 180 milhões e R$ 400 milhões, o que daria para despoluir totalmente a Lagoa, no mínimo, três vezes. O projeto usado como base para essa despoluição é conhecido como “dutos afogados” e foi desenvolvido pela equipe do professor Paulo Rosman, do Departamento de Engenharia Costeira da Coppe/UFRJ. Ele uniria o Jardim de Alah ao mar, permitindo a troca subterrânea de água entre a lagoa e o mar. Com isso, acabaria de uma vez por todas, por exemplo, com a mortandade de peixes.

Secretaria de Turismo contratou os organizadores, sem licitação, por R$ 4,3 milhões. Reprodução do DO
Secretaria de Turismo contratou os organizadores, sem licitação, por R$ 4,3 milhões. Reprodução do DO

O projeto repousa há quase 15 anos nas gavetas da Prefeitura do Rio. Ele chegou ter o seu EIA/RIMA aprovado e foi objeto de diversas reuniões do governo, inclusive com a participação do prefeito Eduardo Paes. A proposta aparece no site Lagoa.Rio, da Prefeitura, que divide a recuperação ambiental da Lagoa Rodrigo de Freitas em quatro fases: a primeira seria a preservação das unidades de conservação, a segunda é a recuperação da orla com o resgate das áreas de lazer, a terceira é a fiscalização do despejo de esgoto e a quarta e última, sem data prevista, seria a despoluição propriamente dita, com a adoção do projeto da Coppe.

Seria completamente injusto dizer que nesses oito anos nada foi feito pela despoluição da Lagoa Rodrigo de Freitas. Dois projetos foram fundamentais para avançarmos nessa direção. O primeiro foi a privatização do saneamento no Estado. A concessionária Águas do Rio, nova responsável pelo tratamento de esgoto no município, fez uma série de ações para melhorar a qualidade da água: da troca de bombas e sistemas elétricos até a simples limpeza e recuperação da rede de proteção da lagoa. O segundo, chamado de naturalização da Lagoa, é liderado pelo biólogo Mario Moscatelli. Ele vem recuperando  a flora da região e deve fazer com que, com que após muitos anos, o espelho d´água volte a crescer. É fato que as águas da Lagoa hoje são completamente diferentes do que eram em 2015. Mas ela ainda não está despoluída, o risco de cheias e de mortandade de peixes persiste. Até lá seguiremos com uma árvore de Natal meia bomba e um Cartão Postal muito menos sustentável do que poderia ser.

Árvore da Lagoa de 2015 tinha 2,5 milhões de microlâmpadas, pesou 350 toneladas e chegou a 53 metros de altura. Foto de Custódio Coimbra
Árvore da Lagoa de 2015 tinha 2,5 milhões de micro lâmpadas, pesou 350 toneladas e chegou a 53 metros de altura. Foto de Custódio Coimbra

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