A afirmação absurda do senhor Carlos Caetano Bledon Verri, treinador da seleção brasileira, conhecido por Dunga – apelido, aliás, mais do que pertinente a essa figura – trouxe de volta a mim um questionamento que fiz no final dos anos 1990, quando escrevi o ensaio “A busca de um caminho para o Brasil”. Na ocasião, tive de fazer uso de um subcapítulo inteiro para abordar o racismo no futebol brasileiro.

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Na época questionei: “por que no país do futebol negro os técnicos eram todos brancos?” Para mim, mais importante do que a estapafúrdia fala de Dunga, cabe o questionamento-título dessa crônica. Muitos comentaristas e esportistas dizem que Dunga é burro. Esta não é a verdade completa. Burro e teimoso foi o Felipão, com a sua estratégia de jogo em 2014, ao permitir que o grupo de jogadores acreditassem que a “união” do grupo fosse suficiente para vencer pragmáticos alemães e holandeses, detentores de táticas e práticas bem urdidas por seus treinadores. O Dunga é diferente, ele não é burro, mais, sim, muito burro, o que é fatal. A ênfase é algo fundamental quando se faz análise de qualquer tipo.




A dificuldade de Dunga não é só com as palavras, na eliminação da seleção brasileira para a fraca equipe do Paraguai, mas determinada e melhor postada psicologicamente em campo do que a do Brasil, ele retirou Robinho – um batedor de pênaltis, quando já se percebia que a partida seria decidida assim. Não só colocou novatos, como os escolheu para bater os pênaltis decisivos que foram desperdiçados pelos dois que entraram no final. Trata-se de um Dunga – com o respeito que me merece o nanismo – de fato muito burro.

Sei que alguns poderão dizer: todo torcedor brasileiro se mete a dar palpites – agora até o Helio Santos. Pois é, mas sou de fato um “torcedor brasileiro”…

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Lima – foto divulgação.

Nessa lenga-lenga quero colocar mais uma vez o dedo na ferida do racismo institucional brasileiro – essa sim minha especialidade. Aonde estão esses super-craques, como Jairzinho, Zé Maria, e Wladimir? Mais: onde estão os cerebrais jogadores como Mengálvio, Lima e Paulo Cesar Caju. Estes três últimos eram jogadores que atuavam sem bola e que funcionavam taticamente de forma brilhante. Pergunto: por que não estão treinando grandes equipes de futebol? Há vários outros ex-jogadores negros no anonimato. Depreende-se que para jogar os negros se destacam, para treinar equipes, não!

Jairzinho
Jairzinho – foto divulgação

Felipão foi um zagueiro do tipo que metia um bico na bola e ela ia parar fora do campo. Sem técnica alguma. Hoje é estrategista do nosso futebol.

Andrade, negro, jogador vitorioso em campo, em 2009 dirigiu o Flamengo que se sagrou campeão brasileiro e se tornou o primeiro técnico negro a vencer um campeonato daquele porte.

Nós, simples mortais que amamos o futebol, não temos a menor ideia do que se passa nos bastidores do mundo da bola. Técnicos são afilhados da cartolagem que é branca e bem-nascida e em sua larga maioria corrupta, como se revelou recentemente.

Paulo Cesar Caju
Paulo Cesar Caju – foto divulgação

A chamada imprensa esportiva também deixa a desejar: faz e participa de lobbies e é tendenciosa ao analisar o que acontece. Quem tiver dúvida sobre esse viés, veja como os comentaristas tratam os casos de racismo que acontecem no futebol. São analfabetos em Brasil, em nossa história, em nossas práticas discriminatórias e em minha opinião de amante do futebol são fracos também na própria análise do esporte. Sim – há algumas exceções. Boas exceções: Junior e Tostão são dois bons exemplos. Vejo futebol pela TV e há muito tempo corto o som do aparelho, pois não suporto mais as obviedades repetidas à exaustão, além de erros crassos.

Portanto, a estúpida fala de Dunga, deveria ser uma oportunidade para que os amantes do futebol: a “bagatela” de 200 milhões de brasileiros, fizessem um imenso ruído contra os absurdos que acontecem no principal esporte do país, os quais assistimos inertes.

Temos um ex-presidente da CBF preso na Suíça sob graves acusações, para vergonha de todos nós. O futebol, juntamente com a música, são as únicas áreas em que o negro no Brasil tem tido oportunidade. Somos considerados em todo o mundo centros de excelência nessas duas áreas. Todavia, o mesmo não se dá noutros setores, como na política, na economia, na literatura. Não ganhamos até hoje um prêmio Nobel sequer!

Vamos gritar em uníssono em resposta ao Dunga: Por que ex-jogadores afrodescedentes não estão treinando grandes equipes? Vamos bater esse bumbo. Quem sabe os próprios interessados, os ex-jogadores negros, comecem também a falar. O Movimento Social Negro Brasileiro enfrentou muita gente da mídia televisiva para que os talentos negros fossem para a frente das câmeras – e são tantos hoje. A televisão vem ficando mais bonita e diversa, mas precisa ficar ainda mais.

Quem sabe o futebol brasileiro sai do lodaçal em que se encontra com essa iniciativa? Vamos – negros e brancos – continuar lutando para colocar nosso País numa rota mais civilizada e justa. Levamos as ações afirmativas (cotas) às universidades públicas, agora vamos fazer o mesmo com os concursos e precisamos imediatamente cessar o extermínio de jovens negros – essa última tarefa é para “ontem”.

Percebam todas e todos: é uma pauta heterodoxa; mas temos fôlego. Temos todas e todos demonstrado isso ao longo dos últimos 35 anos.