A balada do porteiro –

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Por Leandro Fortes – 

Então, foi assim.




Em 14 de março de 2018, o porteiro do condomínio Vivendas da Barra, simplesmente, enlouqueceu. Decidiu, do nada, fazer anotações aleatórias num livro de registro da portaria para, pela ordem:

1) Inventar que um miliciano, Élcio Queiroz, prestes a assassinar Marielle Franco e Anderson Gomes, teria pedido para ir à casa 58;
2) Inventar que o dono da casa 58, Jair Bolsonaro, teria autorizado a entrada do miliciano;
3) Inventar que reparou, pelas câmeras de segurança, que o miliciano estava indo para a casa de outro miliciano;
4) Inventar que o dono da casa 58, avisado do desvio, teria dito que tudo bem, sabia para onde o carro estava indo: a casa 65, do sargento de milícias Ronnie Lessa, o outro assassino, ainda foragido.

Tudo isso em 14 de março, horas antes do duplo assassinato, meses antes de Bolsonaro ser eleito presidente da República. Louco, o porteiro previu que, fazendo essas anotações e, mais tarde, as confirmando em depoimento à Polícia Civil do Rio de Janeiro, seria inevitável a queda do presidente.

Estranhamente, depôs já sabendo que, ao narrar esta história, estava mexendo com milicianos assassinos e com uma família intrinsicamente ligada às milícias, a partir do gabinete de Flávio Bolsonaro, na Assembleia Legislativa do Rio, quando deputado estadual.

Bolsonaro sabia, desde 9 de outubro, por uma inconfidência – criminosa, diga-se de passagem – do governador Wilson Witzel, do depoimento do porteiro e do encaminhamento ao Supremo Tribunal Federal.

Portanto, aquele teatro na madrugada saudita, aquela indignação apoplética, foi encenação pura. Uma cena pateticamente programada.

Além disso, ele, os filhos e a turma de milicianos ligada à família tiveram quase 20 dias para fazer e acontecer com os registros do condomínio e conseguir, da forma vergonhosa que conseguiram, que o Ministério Público decidisse, sem perícia e sem decência, que o porteiro estava mentindo.

Desculpem, só sendo idiota ou muito ingênuo para achar que um porteiro, em 14 de março do ano passado, iria anotar com precisão as placas de carro de um miliciano e, mais tarde, iria denunciá-lo à polícia para caluniar um presidente que ele nem sabia que seria candidato.

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