A balbúrdia na educação brasileira

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#Colabora inicia série de reportagens sobre a relevância da pesquisa científica no Brasil

Por Agostinho Vieira, compartilhado de Projeto Colabora

Estudantes Alunos protestam contra os cortes do governo nas verbas da educação. Foto Nelson Almeida/AFP




Para o (ex)ministro da Educação, Abraham Weintraub, as universidades federais brasileiras são centros de “balbúrdia” que abrigam em suas instalações “gente pelada, eventos ridículos e muita bagunça”. Foi com base nessas certezas, que o governo justificou parte do contingenciamento de R$ 7,4 bilhões dos recursos do MEC. Desse montante, cerca de R$ 2,0 bilhões são das universidades federais que, no entanto, foram atingidas também pela redução nos recursos de órgãos de financiamento como o CNPQ (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico), a Finep (Financiadora de Estudos e Projetos) e o Fundo Nacional do Desenvolvimento Científico e Tecnológico.

Leia mais reportagens da série #100diasdebalbúrdiafederal

No caso das universidades, como o pagamento do pessoal é obrigatório e não pode ser reduzido, os cortes atingem as chamadas despesas discricionárias, usadas para cobrir gastos como as contas de água, luz, limpeza, compras de equipamentos de laboratórios e as bolsas de auxílio aos estudantes. Ao ser criticado pelo corte de 30% nesses recursos de manutenção das universidades, o ministro reagiu com uma pergunta: “Não podem economizar nem uma migalha?”.

No último sábado o #Colabora publicou a primeira de uma série de reportagens mostrando que a realidade das universidades públicas no Brasil é bastante diferente do que pensa o governo. Nesta série, que recebeu o nome de “Balbúrdia Federal”, vamos mostrar 100 exemplos de trabalhos feitos nessas universidades, em todo o Brasil, que são reconhecidos mundialmente e vêm sendo fundamentais para a sociedade. Entre eles, pesquisas como as do Zica Virus, do Pré-Sal, na área da agricultura e da preservação da biodiversidade na Amazônia.

A primeira delas foi a história da reitora recém-eleita da UFRJ, Denise Pires de Carvalho, que há anos tem que usar seus próprios recursos para custear a sua pesquisa. Médica do instituto de Biofísica, Denise tem trabalhos premiados no combate ao câncer de tireoide. O reconhecimento por uma pesquisa tão importante, porém, não se traduz em mais verbas.  “É muito comum os pesquisadores tirarem dinheiro do bolso para manter seus trabalhos”.

Para o professor Ildeu de Castro Moreira, presidente da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), estes cortes recentes de verbas ameaçam, antes de tudo, o direito à cidadania, à expressão e à liberdade acadêmica. Ele cita, por exemplo, a redução de recursos da Capes (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior), que financiam grande parte da pós-graduação no país. “Esse corte ameaça não só a ciência e tecnologia nesse momento – e ela faz isso -, mas também afasta os jovens da ciência por não terem motivação. E isso pode afetar seriamente o futuro do país”.

Em entrevista ao jornal O Estado de S.Paulo, o ministro Weintraub citou o baixo desempenho das universidades para justificar os cortes: “Universidades que, em vez de procurar melhorar o desempenho acadêmico, estiverem fazendo balbúrdia, terão verbas reduzidas”. No entanto, a última pesquisa da revista britânica Times Higher Education (THE) sobre reputação acadêmica mostrou que as universidades brasileiras seguem entre as melhores da América Latina, ocupando seis dos dez primeiros lugares, com a Unicamp e a USP ficando com as duas primeiras colocações.

Quem quiser contribuir com a série de reportagens do #Colabora pode enviar as suas sugestões para o e-mail contato@projetocolabora.com.br, sem deixar de incluir no assunto o tema “Balbúrdia Federal”. Pois, como já disse Derek Bok, ex-reitor e ex-diretor da Faculdade de Direito da Universidade de Harvard: “Se você acha que a educação é cara, experimente a ignorância”. #100diasdebalbúrdiafederal

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