Por Washington Luiz de Araújo, jornalista, Bem Blogado
“Vocês, que já moram num paraíso, têm que passar por algum ônus”. Estas foram as palavras de um juiz ao receber a diretoria da Morena, ou seja, a população de Paquetá, no início de 2020, quando a Defensoria Pública entrou com ação contra a imposição de uma grade horária absurda para o transporte de barcas da Ilha. No dia 11 de fevereiro de 2025, a CCR se despediu, saiu de nossas vidas na questão do transporte de passageiros.
Aliás, CCR significa Companhia de Concessões Rodoviárias. Portanto, ao transitar por uma rodovia podemos nos deparar com esta sigla que para nó se traduziu em pesadelo. Ah, e também em aeroportos, sim porque o pesadelo pode voar, rodar e navegar.
A saída da CCR de nossa vida de Ilha foi um alívio total. O ônus que pagamos por morar no paraíso mencionado pelo senhor meritíssimo durou mais de 4.500 dias. Sim, foram mais de 12 anos que está sigla fez, infelizmente, parte de nossa coibida liberdade de ir e vir.
Atrasos, barcas sem refrigeração e sem manutenção, quebras das mesmas em plena Baía da Guanabara, superlotação em embarcação sem condições, banheiros e demais acomodações em péssimas condições, tanto da Estação de Paquetá como da Praça XV. Estes foram alguns dos itens do pacote de descaso para com os moradores de Paquetá e aqueles que nos visitaram.
A CCR contribuiu, e muito, para que o nosso chamado paraíso vivesse momentos de inferno. No entanto, não esteve só. Ao seu lado, o governo estadual, por ser contratante inoperante da empresa; a Agetransp, por ser uma agência que deveria fiscalizar a concessão, submissa; a Prefeitura, por ser omissa para com um bairro.
A Defensoria Pública foi aliada do povo de Paquetá, nos representando dignamente, caso contrário, o inferno estaria consolidado definitivamente.
A Morena, nossa associação, liderou e lutou com nossos moradores, que não esmoreceram e sempre estiveram presentes em manifestações e diversas outras ações, alertando que Paquetá, graças ao poder público, poderia deixar de o paraíso desenhado e desdenhado por muitos.
Sim, não são só os problemas de transporte de barcas, há também descaso no fornecimento de energia elétrica, de água, Internet, buracos de rua… No entanto, a CCR extrapolou no quesito “não tô nem aí”.
A população de Paquetá chama a atenção para este descaso para que não se repita e deixa claro que está alerta e que o “Respeita Paquetá” já se tornou um lema impregnado na mente de todos e todas.
No final destes tristes 12 anos da concessão da CCR, a Morena realizou uma enquete sobre os três, entre vários outros, problemas ocasionados pela operação das barcas, aspas para a associação:
“Os 3 principais resultados da pesquisa realizada na Estação Paquetá, nas duas últimas semanas, revelaram que:
79,2% dos moradores que participaram da pesquisa (1.109) elegeram os atrasos como o pior problema dos serviços aquaviários;
62,8% dos respondentes indicaram a falta de barcas com ar refrigerado;
38,5% dos participantes apontaram a pouca oferta de horários na grade de Paquetá como uma grande dificuldade para o nosso bairro-ilha que depende, exclusivamente, do transporte por barcas.”
A direção da Morena esteve, no 12 de fevereiro, na sede do Consórcio Barcas Rio, novo operador do transporte aquaviário, quando entregou ofício com as principais reivindicações dos moradores e a solicitação de agendamento de reunião com a diretoria.
O diagnóstico do sofrimento, dos tantos prejuízos financeiros, físicos e psicológicos impingidos nesta mais de uma década serão relatados para que o passado não se repita como uma comédia dramática, muitos menos como tragédia.
Recado para aquele magistrado, o qual não vou perder tempo para pesquisar seu nome: senhor juiz, pare agora de pensar que Paquetá, por ser um paraíso, por ter um bom índice do quesito aprazível, merece sofrer com a desumanidade, com a omissão, a submissão em nome do vi metal.