A batalha na rede: momento da virada da ira justa contra o fascismo é agora

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Por Mauro Santayana, Rede Brasil Atual –

Debater com competência, números e fatos com um adversário na internet pode até não mudar a opinião dele. Mas abala suas certezas. Não se pode abandonar a internet ao ódio, como nos últimos anos

cena de minority reportSe ameaça protofascista não for contida a tempo, poderá significar a capitulação da liberdade e do direito de defesa

A condenação de Lula sem provas, por um crime que não cometeu – não recebeu, não usufruiu, nunca teve o tal tríplex em seu nome – com a argumentação, como nos filmes de ficção científica (vide A Nova Lei – Minority Report, de Steven Spielberg, 2002), de que tinha a intenção de eventualmente praticá-lo – a quase dez anos de prisão, e a mais de sete de ostracismo político, precisa servir de alerta final, talvez o mais significativo até agora, antes que se proceda à inexorável entrega do país ao fascismo nas eleições do ano que vem.




O passo dado pelo Juiz Sérgio Moro foi de sutileza paquidérmica, do ponto de vista de desrespeito, desconsideração e desprezo pelo Estado de direito. E como já dissemos tantas vezes aqui já estava sobejamente anunciado. Tanto quanto o está a condenação de Lula em segunda instância, em prazo eventualmente recorde – como já dá, espertamente, como favas contadas, certa mídia – se não se estabelecer prontamente uma estratégia de defesa da democracia, com relação às eleições diretas, ocorram elas em 2018 ou nos próximos meses.

O problema não é partidário.

A grande questão não é o que está ocorrendo com Lula, Dilma e o PT, que, por omissão, excessivas concessões ou falta de planejamento e resposta tática, contribuíram também para que as coisas chegassem aonde estão hoje. O drama do PT e de seus dirigentes é apenas a extremidade exposta do iceberg que pode engolir cada um de nós – do que pode acontecer, “casualmente”, com a eventualidade de um fenômeno meteorológico, com qualquer cidadão brasileiro, a partir de agora.

O Brasil já vive, de fato, uma ditadura, na qual se prende e se condena sem provas, com base no dedurismo generalizado de presos “provisórios-permanentes” que são obrigados a negociar e a delatar enquanto se encontram sob custódia do Estado – e de empresas que, se não fizerem o mesmo, vão à bancarrota – com pesos, medidas e resultados diferentes para cada tipo de delatado.

Desse esquema faz parte a libertação – para prisão domiciliar – de corruptos comprovados.

E, naturalmente, a condenação de lideranças políticas de certas agremiações – que não receberam dinheiro sujo nem têm conta no exterior – enquanto outras não são detidas, ou servem de distração e de pretexto, na mídia e junto à opinião pública internacional, para justificar o quadro de descalabro jurídico, econômico, estratégico e institucional em que estamos mergulhados.

A defesa da democracia – antes que seja tarde e não se possa mais escapar do arbítrio, das grades e dos porões de um estado jurídico-policial (principalmente policial) que será institucionalizado com sua sagração nas urnas em 2018 – não será alcançada apenas colocando gente na rua ou limitando-se a luta política a uma dimensão partidária e eleitoral.

Até mesmo porque militantes não são coelhos – não se multiplica seu número simplesmente reunindo-os durante certo tempo em algum lugar – e o eleitorado antifascista, principalmente depois do massacre midiático dos últimos anos, vai continuar quantitativamente onde sempre esteve, historicamente, com aproximadamente um terço dos votos nacionais.

A esse terço, matemático, se contrapõe outro, equivalente, em termos numéricos, que se encontra, agora, nas mãos da extrema-direita.

E uma terceira parte, ignorante, fisiológica, oportunista do ponto de vista partidário, que – e é preciso fazer tudo para que isso não ocorra – também tende a pender para direita no segundo turno das próximas eleições.

Na verdade – e há muita gente boa que ainda não entendeu isso – mesmo que Lula seja eleito, caso lhe permitam ser candidato, sem o convencimento real da maioria da população e uma grande diferença de votos, ele será derrubado, em poucos meses, como aconteceu com Dilma, por uma aliança entre os golpistas de sempre e certa mídia – que está fazendo tudo e tudo fará para impedir a sua volta ou permanência no Palácio do Planalto.

Como já nos cansamos de alertar aqui e em outros espaços desde 2013, a batalha de quem se preocupa em defender a Constituição, o Estado de direito e a democracia, assim como a da própria eleição futura, tem de ser travada não apenas no asfalto, já ocupado e dividido, quase salomonicamente, com a coxinhada, mas nos corações e mentes da população brasileira, com ênfase na parcela que, apesar de sua falta de informação ou conservadorismo, ainda não cerrou fileiras com o fascismo.

Além do processo político “comum” que transcorrerá na superfície, os neofascistas precisam ser combatidos onde têm tido maior sucesso, comentário a comentário, site a site, página a página e, principalmente nos grupos do WhatsApp, com argumentos sólidos, contrapondo-se dados concretos ao seu ódio e à sua ferrenha ignorância, a cada vez que se manifestarem nas redes sociais e nos grandes portais nacionais.

Afinal, já há campanhas presidenciais que estão se desenvolvendo na internet, a rédea solta, de forma cerrada e contínua, há vários meses, enquanto o campo democrático se debate na divisão e na pauta imposta pela Lava Jato e a constante doutrinação e sabotagem da mídia conservadora.

É preciso dizer aos fascistas – fakes ou reais, não interessa de que tipo – que para cada um deles existe pelo menos um brasileiro que pensa diferente – motivado, convincente, racional, mais bem informado, coerente, consciente, com paciência – se necessário for – para ser tão repetitivo e insistente quanto eles.

E não adiantam desculpas como perda de tempo ou o fato de que não se tem assinatura deste ou daquele “veículo”.

Quem quer defender a democracia, que assine os grandes jornais e portais, pois não estará investindo mais do que na proteção do que resta das instituições e na sobrevivência futura – dentro da paz possível – em um país minimamente livre, de sua família.

O que não se pode é abandonar a internet – o maior instrumento de comunicação e de doutrinação já criado pelo homem – ao fascismo, como se fez, tola e irresponsavelmente – e não apenas no Brasil – nos últimos anos.

A grande missão de qualquer cidadão digno desse termo, nesta hora, deve ser a defesa e a restauração da verdade, torcida e vilipendiada pela “história oficial” vigente, montada, contada e recontada por uma plutoburocracia parcial e seletiva, totalmente descompromissada, geopolítica e estrategicamente, com o país, movida pela busca de mais poder e por seus interesses – que no mínimo coincidem com os de nossos concorrentes externos – e vaidade.

Debater com competência, números e fatos, com um adversário na internet pode até não mudar a opinião dele.

Mas arrisca a abalar suas certezas.

E impede que o público “neutro” que está acompanhando a discussão, lendo os comentários, venha a se deixar convencer, sem o benefício e a alternativa de uma segunda opinião, pela argumentação costumeiramente mendaz e odiosa dele.

Moro só pôde condenar Lula tranquilamente, da forma como o fez, porque o antilulismo, o antipetismo e o antibolivarianismo – filhos diletos e diretos do anticomunismo tosco, anacrônico e distorcido renascido nos neurônios da nação como um fungo alucinógeno, contaminante e tumoral, nos últimos tempos – tomaram conta, por meio da rede, de uma massa amorfa e mal informada, confundindo-a e manipulando-a sem nenhum tipo de reação – nem de comunicação, nem jurídica – por parte de quem estava sendo atacado – durante quatro longos anos, implantando na cabeça da população um punhado de incontestados paradigmas.

Os mais simplistas – e logo, mais fáceis de serem desmontados – são aqueles que dizem que o PT quebrou o país, que foi implantado no Brasil um governo comunista nos últimos 15 anos, e que o PT odeia as Forças Armadas, por exemplo.

Isso, apesar de o PIB e a renda per capita terem recuado, segundo o Banco Mundial, em termos nominais, nos oito anos de FHC e de que as dividas líquida e bruta serem menores hoje, com relação ao PIB, do que eram em 2002. De o Produto Interno Bruto ter aumentado, nominalmente, pelo menos três vezes em dólares, nos últimos 15 anos, com relação ao do último ano de FHC.

E também de que pagou-se a dívida com o FMI em 2005 e desde então, nos governos do PT, multiplicaram-se por onze as reservas internacionais.

De que, longe de ser comunista, nunca o capitalismo no Brasil cresceu tanto, como na última década e meia, com a explosão dos ganhos do sistema financeiro, daqueles derivados da duplicação da produção agrícola, do aumento das exportações e da expansão do crédito e do consumo.

E de que, quanto à Marinha, ao Exército e à Aeronáutica, em vez de ser contra as Forças Armadas, o PT foi responsável pelo lançamento do maior programa de rearmamento da defesa nacional nos últimos 500 anos, com medidas como a ordem para a construção – em parceria com a França – do primeiro submarino nuclear brasileiro, da nova família de rifles IA2, dos novos caças Gripen NG BR, sem falar de aviões cargueiros como o KC-390, de blindados ligeiros como o Guarani, do novo Satélite Geoestacionário de Defesa e Comunicações Estratégicas, de novos radares e sistemas de artilharia, como o Astros 2020 etc. etc. etc.

Esses são alguns dos argumentos que deveriam ser passados, democraticamente, à opinião pública que faz uso da internet pelo computador e o celular.

Os links e as informações que os sustentam – se o PT quebrou o país como ainda somos o quarto maior credor externo dos EUA? – e os comprovam encontram-se ao alcance de qualquer um, bastando copiá-los e publicá-los, sempre que possível, no final dos comentários.

Informações de caráter social são importantes, mas opcionais, no caso do público protofascista, já egoísta e excludente por natureza – que é bombardeado, todos os dias, contra as “bolsas” e o “populismo esquerdopata”.

O tempo não para – como diria o poeta – e o relógio da História também não se detêm, nem por um átimo.

Segundo a segundo, a cada passo silente, quase imperceptível, do mais fino dos ponteiros, estamos mais perto – e o Brasil mais próximo, historicamente – da batalha decisiva das novas eleições presidenciais.

A saída de Temer e a eventual ascensão de Rodrigo Maia são pouco mais que irrelevantes em termos eleitorais e nada mudará – a não ser para pior – da pauta entreguista e neoliberal em andamento.

O que importa – agora ou no ano que vem – é o próximo pleito.

Basta ler as reações à condenação de Lula na internet para ver onde estão aqueles que podem se levantar contra o autoritarismo.

Trancados, majoritariamente, em seus guetos, expondo, pela enésima vez, uns para os outros, como em um espelho estéril e infinito, sua indignação e perplexidade. Ontem (16), em comentário em artigo do Estadão no UOL, um sujeito afirmou, sem meias palavras, que, diante dos recursos que existem para que Lula escape à sentença de Moro, o melhor seria “mandar logo este cabra pra debaixo da terra” – e ninguém apareceu para contestá-lo até agora

Se essa ira, justa se transformar em força e se derramar para a internet como um todo, a partir desta semana, este poderá ser o momento da virada.

Se, no entanto, continuar contida, restrita e ineficaz, em termos de mudança de jogo, o momento que estamos vivendo se transformará no marco simbólico da capitulação da liberdade e do direito de defesa, da antecipada rendição da resistência democrática, da prévia e definitiva entrega do país a um tipo de fascismo que, uma vez alçado ao poder, dificilmente irá apear-se dele novamente.

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