Claro que já vi vários filmes sobre rodeios e touradas. Mas nunca um em francês. Coproduzido por França, Bélgica e Arábia Saudita, “Animale” logo de cara já causa este saudável estranhamento (estranhamentos, pra mim, são sempre saudáveis).
Por Celso Sabadin, compartilhado de Planeta Tela
Roteirizado e dirigido por cineastas mulheres (Julie Debiton e Emma Benestan no roteiro, e Benestan na direção), “Animale” mostra a jovem Nejma (Oulaya Amamra) tentando se tornar a primeira mulher a participar de uma “tourada”, em algum lugar francófono da Europa. Cabe uma explicação: escrevi tourada entre aspas porque é a maneira como está traduzido na legenda, mas não se trata realmente de uma “tourada” no estilo espanhol, como nós a conhecemos. É mais uma espécie de apresentação bizzara na qual um grupo de peões fica covardemente provocando um touro, numa arena, e depois fugindo para não tomar chifrada. Vai entender!
De qualquer maneira, é neste universo eminentemente masculino que Nejma quer entrar. E entra, pois ela tem uma ligação muito especial com touros. Logo, porém, o que se apresentava como um drama feminista vai se transformando num filme de horror… sem se afastar do drama feminista. Mesmo porque a selvageria pode se apresentar sob os mais diversos formatos. E de fato se apresenta.
Sem ser exatamente surpreendente, “Animale” é bastante competente no que se propõe, ao misturar drama com terror e criar interessantes relações entre a rudeza das tais touradas e a aparentemente infinita bestialidade humana. Pautada pelo suspense, a direção se mostra mais hábil que o roteiro, extraindo dele ótimos momentos de tensão, bom ritmo, e principalmente uma forte empatia com a protagonista.
Méritos também – e muitos – para a forte atuação de Oulaya Amamra, reponsável por grande parte das qualidades do longa.
Filme de encerramento da Semana da Crítica de Cannes em 2024, “Animale” está em cartaz em cinemas do Brasil desde a última quinta-feira, 15/05.