Por Carlos Eduardo Alves, jornalista, Bem Blogado –
Desde que o ex-presidente Luiz Inacio Lula da Silva saiu da prisão, o jogo político mudou no Brasil. De um lado, figuras como Ciro Gomes, que tentava se cacifar na oposição a Bolsonaro, sumiram do noticiário, engolidos pela força do petista. De outra parte, a direita se aglutina em torno de manobras parlamentares que possam permitir a volta de Lula ao cárcere. Em resumo, tudo gira em torno de Lula, o que aumenta ainda mais a responsabilidade dele.
Lula é, para o bem ou para o mal, dependendo de quem avalie, um negociador. Gosta de conversar com todos, inclusive adversários, antes de tomar decisões relevantes. Só não fala com inimigo, como é o caso do fascista que é presidente da República.
Apesar de estar relativamente bem informado sobre o que se passava no País enquanto permanecia injustamente preso, é inegável que o leque de interlocutores aumentou agora. Lula é um animal político por excelência e deve estar aproveitando o tempo para sentir o clima político no Brasil.
Uma discussão que já está posta nas esquerdas é, grosso modo, a largura de uma frente que combata mais eficazmente o desgoverno Bolsonaro. Nas poucas vezes em que se dirigiu ao povo, Lula deixou claro que uma parte da luta será contra a chacina social que Paulo Guedes está impondo aos trabalhadores, com o apoio quase unânime da mídia hegemônica.
É inquestionável que as ideias do mercado, portanto antipopulares, se impuseram até agora, com destaque para o desmonte da Previdência promovido pelo Parlamento de ampla maioria direitista.
Lula já disse que uma das queixas que ouvia de visitantes em Curitiba era sobre a dificuldade de promover manifestações de rua com adesão de muita gente. Eis aí um desafio imenso para quem sempre soube falar para o brasileiro pobre.
Outra tarefa que já está obrigatoriamente na agenda política do ex-presidente da República, quer ele goste ou não, é a formação de palanques para as eleições municipais de 2020.
O fato inegável é que o PT hoje não possui nomes viáveis pelo menos nas duas cidades mais importantes do País, São Paulo e Rio.
Na capital paulista, na verdade, nenhum setor das esquerdas tem alguém forte atualmente. O que vai se fazer? Lançar um representante para marcar posição ou buscar alianças que permitam a formação de uma frente para colocar ao menos alguém no segundo turno contra um oponente do conservadorismo, da extrema-direita ou da direita convencional?
No Rio, o PT também terá que encarar uma questão complicada. Fora do campo do del í rio, não há ninguém na sigla com a mínima chance de se dar bem na corrida pela Prefeitura carioca. Mas, ao contrário do que ocorre em São Paulo, um braço das esquerdas, mais precisamente o PSOL, tem a candidatura viável de Marcelo Freixo já posta na mesa.
O PT, leia-se Lula, concordará em engordar o palanque de Freixo ou se conformará com uma candidatura própria irrelevante em termos eleitorais? Não se deve esquecer que o PSOL foi solidário durante toda a luta pela liberdade de Lula.
Isso será suficiente para Freixo concorrer por uma frente clara de esquerda? Não são decisões fáceis, principalmente quando se sabe que a direitona ainda não se conformou com o Lula livre e tenta novamente jogá-lo na prisão.
Sabe aquela historinha do “não está fácil para ninguém”? Pois é. Não está fácil para Lula também, embora nada possa ser pior do que uma prisão injusta. Lula está livre, mas carrega a imensa responsabilidade de ser o único líder popular de um País em que o fascismo avança sobre direitos sociais e ameaça até a vida alheia com a tentativa de oficializar milícias e matadores.
Ao fim e ao cabo, o ator principal voltou ao palco da Política.
