Por Marcos Sacramento, publicado em DCM –
A camiseta da grife Osklen com a estampa escrita “Favela” é o símbolo de como a pobreza e a desigualdade social são preciosas fontes de inspiração para estilistas descolados. Vendida por R$ 89,00, a peça de roupa virou polêmica na internet depois que a blogueira e ativista Stephanie Ribeiro postou um comentário na sua página no Facebook.
“Esses dias eu fui numa festinha num bar em Higienopólis. E no mesmo ambiente que eu, tinha um moço com uma camiseta escrito: Favela, eram letras amarelas num fundo verde. Queria entender qual o tesão em cima de usar uma camiseta escrito Favela, quando sua realidade é o mais longe possível de uma pessoa favelada”, escreveu.
A grife carioca não está sozinha nessa história de tratar as favelas e outros elementos da pobreza brasileira como ícones fashion. Uma camiseta da marca francesa Givenchy com a estampa “Favela 74”, lançada no ano passado, estava sendo vendida a partir de 390 dólares em uma loja da Itália.
Favelas influenciaram, também, uma das criações da badalada dupla de designers Fernando e Humberto Campana. Inspirada na Rocinha, a Cadeira Favela pode repousar na sala de qualquer cidadão capaz de pagar mais de 7 mil euros por ela.
Por mais que essas comunidades sejam berço de manifestações culturais fundamentais como o samba e suas várias vertentes, é preciso lembrar que antes de tudo são espaços com predominância de moradias precárias e marcados pela carência de serviços básicos como saneamento, transporte e educação.
Elas foram ocupadas por força da pobreza combinada ao desprezo das elites políticas pelo bem estar dos mais pobres. Ninguém, décadas atrás, olhou para um morro ou um manguezal e decidiu morar nesses locais para curtir a vista bonita ou ficar em contato íntimo com a natureza.
Glamourizar as favelas, reduzindo-as a um elemento decorativo ou ponto de peregrinação para turistas ávidos por “experiências únicas”, e fechar os olhos para as condições de exclusão enfrentadas pelos seus moradores é uma mistura de cinismo com pitadas de crueldade.
É verdade que nessas comunidades não existe apenas sofrimento e amargura. Há beleza, esperança, criatividade e muita gente trabalhadora. Mas como Bezerra da Silva cantou em “Eu Sou Favela”, de Noca da Portela e Sérgio Mosca, “ela só vive lá, porque para o pobre, não tem outro jeito, apenas só tem o direito, a um salário de fome e uma vida normal”.
Resumindo, “a favela é um problema social”.