Por Xico Sá, compartilhado de Metropoles –
Nem mesmo os canalhas da obra de Nelson Rodrigues alcançam o patamar do festival de infâmias bolsonaristas
Há até algo do rodrigueano “Palhares, o canalha sincero”, em alguns momentos. Quando confessou, por exemplo, ter usado a verba de auxílio-moradia para “comer gente”. E fica por aí. Mesmo o Palhares parece um coroinha diante do festival de infâmias bolsonaristas.
Nem no mais tolerante dos botequins de Copacabana existe algo do gênero. A ordem do dia em Brasília é a prática da canalhice permanente. É raro um dia em que a autoridade máxima do país não promova o seu barraco ou piti no cercadinho do Alvorada. A sua tara é humilhar jornalistas diante da claque de fanáticos que é capaz de rir até mesmo quando o presidente da República ataca pornograficamente uma repórter, como no episódio mais recente de baixaria.
Ao estilo das patadas, só me lembro do general Newton Cruz, chefe do SNI nos anos 1980, que nunca obteve um único voto popular na vida. O ex-capitão, eleito por 57.797.847 de brasileiros, supera fácil em matéria de ecletismo na canalhice. Desde a eleição, atacou mulheres, índios, quilombolas, orientais, nordestinos e gays.
Quem vai parar esse homem? Pelo visto não serão as instituições. No episódio sobre a repórter Patrícia Campos Mello (Folha), somente as entidades representativas da imprensa se pronunciaram com vigor.
Assim caminha a insuperável canalhice de um político que ainda parece no palco do Super Pop (Rede TV!) berrando as ofensas machistas e homofóbicas ou louvando seus heróis especialistas em torturas.
É o mesmo político autor da frase “Só não te estupro porque você não merece”, dirigida à deputada gaúcha Maria do Rosário (PT). Qual será a próxima violência? O riso dos devotos está garantido. Qual é a graça?
* Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Metrópoles