Por Carlos Eduardo Alves, jornalista, especial para o Bem Blogado –
Para surpresa dos que não enxergam o óbvio, a retirada dos direitos da aposentadoria, chamada cinicamente de reforma da Previdência, virou tema de conversa de rua e motivo de aumento da rejeição do já exageradamente impopular governo Temer. Abriu-se, enfim, a oportunidade de fato para a oposição enfrentar os golpistas na rua.
Um fato que naturalmente passou longe do noticiário dos grandes veículos foi a realização, na semana passada, de centenas de atos em pequenas cidades brasileiras contra a mexida que se pretende dar na Previdência. É um sinal indesmentível que o caráter predatório da cleptocracia já foi detectado por setores até não alinhados automaticamente à esquerda.
Nas grandes cidades, manifestações imensas ocorreram, com destaque para Belo Horizonte e São Paulo. Mesmo com toda mobilização, governo e seus porta-vozes mercadistas da imprensa insistem em que o pacote completo de “reformas” não terá sentido sem que direitos sejam retirados. A Previdência é a cereja econômica do bolo do golpe. Mas não será fácil para a turma do dinheiro levar a tunga para a casa.
Até agora, mostraram-se inúteis as horas de TV e a propaganda oficial tentando tornar palatável a aposentadoria quase impossível. O discurso do “você vai morrer, mas depois as coisas vão melhorar” não está colando. Diferente da triste PEC que garfou 20 anos do futuro do país mas que não traz efeitos em 2017, a aposentadoria é um valor que afeta o cotidiano de milhões, especialmente dos mais pobres. É neles que se pretende espetar a conta do ajuste perverso que poupa taxação de grandes fortunas, imposto sobre dividendos e qualquer tributo sobre os milionários e rentistas.
A ameaça aos direitos embutida no caráter do que se pretende fazer na Previdência exige, por outro lado, responsabilidade da esquerda na condução da luta. É preciso não se limitar ao discurso da injustiça, mas deixar claro, vincular mesmo, a chacina social que se pretende aplicar via Previdência à visão de justiça social dos articuladores e beneficiários do golpe.
Também relevante, para os setores progressistas, é a noção que a luta contra a tal reforma da Previdência não pode ser monopolizada por nenhum partido. A chance de derrotar o golpe na sua trincheira mais importante passa pela atuação unitária e não monopolista. Eleições e candidaturas devem ser discutidas em outras esferas.
Aliás, o repúdio ao que o governo quer fazer já pode ser sentido até em conversas com setores de classe média desiludidos com o golpe antidemocrático que ajudaram a dar. Esse apoio eventual não pode ser desprezado, embora a condução política nas ruas seja tarefa da esquerda.
A ultrajante terceirização selvagem, imposta por ordem do patronato mais retrógrado, já passou na Câmara por uma maioria surpreendentemente apertada. Isso sem mobilização de rua volumosa. A velhacaria do Congresso está assustada com o não que ouve de seus eleitores.
Nada, pode-se legitimamente argumentar, que não possa ser superado por mimos valiosos. Mas o medo de enfrentar uma campanha pela reeleição em 2018 com o carimbo de quem chancelou o roubo da aposentadoria pesa também. Para isso, é preciso muita pressão, rua demais, atos eficientes que não deixem a mobilização atual morrer.
É hora de parar de perder tempo com a ilusão do julgamento da chapa Dilma-Temer no TSE. Lá, não acontecerá nada que interesse aos trabalhadores e pobres. Afinal, Gilmar Mendes está instalado para matar no peito a bola e qualquer ilusão democrática. O gol decisivo, que implica inclusive no futuro de Lula e da oposição de esquerda, passa pelas ruas.
Só a organização da luta contra a famigerada reforma da Previdência pode desfechar um petardo decisivo contra os golpistas. O que está em jogo é derrotar a pauta social primitiva. E o adversário, mesmo com o auxílio do juiz, está assustado com a arquibancada.