A conta do desmonte: hora de defender quem já não tem nada ou quase nada tem

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Por Carlos Eduardo Alves, jornalista, para o Bem Blogado – 

O avanço da barbárie social desde o golpe parlamentar contra Dilma é assustador. Já pode se dizer que a tarefa  de qualquer governo minimamente progressista será reverter o arsenal de iniquidades utilizado pela quadrilha de Temer e seus parceiros regionais.

Sim, a voracidade na hora de entregar bens públicos não se limita à gangue de cleptocratas instalada em Brasília. São Paulo, por exemplo, vive a fúria privativista do darling de plantão da direita, João Doria Jr. Nem cemitérios escapam do plano de entregar patrimônio público para particulares. Em breve, se depender do tucano primitivo, o cidadão paulistano não poderá nem morrer em paz. Vai embora com a preocupação do problema que deixará para os familiares.




No campo mais terreno, Doria tenta vender o histórico estádio do Pacaembu a chineses, árabes, marcianos, enfim, a qualquer um que dê algum dinheirinho em troca de um bem público com o qual boa parte da cidade tem relação afetiva.

Doria, apesar do estrago imenso que causa pela nebulosa relação que mantém com empresas, é café pequeno diante da chacina social promovida pelo sem-votos que é Temer. No quadro de desemprego alarmante, é bom lembrar que os efeitos da terrível PEC dos Gastos só serão sentidos em 2018. É no ano que vem que sofreremos o que é só ensaio agora, embora um ensaio doloroso.

O desemprego alarmante fez com que milhões de brasileiros perdessem o plano privado de saúde. Foram empurrados para a rede pública. E o corte nos gastos em nome de um malvado ajuste social vai ocorrer em 2018, com o sucateamento definitivo do SUS. Morrerá de inanição, mas o tal mercado vai celebrar o “controle de gastos”. Quem mandou nascer pobre, né?

Enfim, o desastre que será acelerado em 2018, já está precificado, usando uma linguagem do mercado que pouca ou nenhuma importância dá às vidas de brasileiros. Note-se que aqui nem se fala da tentativa de acabar na prática com o regime previdenciário. Não é preciso chegar à cereja do bolo dos golpistas para se antever que o estrago será feito.

Vai daí que não cabe a nenhuma candidatura presidencial de esquerda fazer discursos tranquilizadores ao mercado financeiro. A única palavra cabível é a de compromisso com os açoitados de hoje, a imensa maioria pobre do país. Não dá mais para conciliar com a retirada de direitos. Não basta condenar as reformas que estão sendo feitas por um governo ilegítimo. É preciso assumir o compromisso de, vencendo nas urnas, apagar as atrocidades cometidas por Temer e sua gangue.

Se é verdade que a nova realidade etária recomenda, por exemplo, uma revisão do critério de idade para aposentadorias, é obrigação de qualquer governo popular só efetuar essa revisão depois de punir sonegadores, taxar grandes fortunas, tributar heranças e lucros por dividendos. Só depois de espetar a conta em quem pode pagar mais é que será digno discutir Previdência e mesmo assim respeitando a diversidade regional de um país em que nordestinos capinam na roça desde os 8 anos e mulheres são submetidas à jornada tripla.

A selvageria social recente já produz legiões de desesperados. Basta uma circulada pelo centro das grandes cidades para atestar o fato. Há uma imensa regressão, causada não pelas esquerdas, mas é inegável também que as forças progressistas não foram até agora fortes o suficiente para barrá-la. E seria um estelionato eleitoral não prometer – e cumprir caso alguém de esquerda seja eleito — extinguir tudo de ruim que está sendo feito contra os mais pobres.

A discussão de fundo agora é se há espaço para tranquilizar o mercado caso uma candidatura de esquerda ganhe em 2018. Não, não há. Depois de tudo o que a elite econômica fez de ruim nesse ano dos diabos de 2017, o campo progressista não tem que acalmar ninguém. É hora de defender quem já não tem nada ou quase nada tem.

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