A conveniente negação do passado

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Por Ulisses Capozzoli, jornalista
Gente que deu apoio ao golpe e votou no Insano não quer ouvir “falar do passado”. Claro que não. “Lembrar o passado é revivê-lo” para quem não se esqueceu das falas proverbiais de nossas avós. Nossos avôs (no meu caso ao menos um deles é exceção) eram mais acomodados. Tocavam a vida segundo a tradição (às vezes nem isso) e as mulheres que se virassem. Há muitas gerações de avós/avôs as coisas continuam assim.
As mulheres seguram a barra, com a coragem e determinação femininas Não é um “agrado” às mulheres. É meu reconhecimento amoroso, respeitoso, fascinado. Homens são criaturas bovinas. Formais, boa parte acovardada, que abandona suas mulheres em momentos difíceis. Fazedores de cena. Quem olha e “vê”, no sentido promissor da palavra, são as mulheres.
Comecei esse pequeno texto para falar da negação do passado recente e me traí, já na segunda linha, pelo fascínio às mulheres que nos trazem ao mundo no interior de uma pequena réplica oceânica, onde a vida se originou. No primeiro choro cortamos o cordão com a vida oceânica e fazemos a respiração atmosférica. Pensem um minuto na simbologia dessa cena e terão o resumo do que ocorreu em milhões de anos na Natureza. Proeza feminina. Os homens estão excluídos dessa obra da criação.
Como havia começado a dizer, gente conservadora, boa parte reacionária mesmo, não quer saber do passado com o argumento de que “assim não construímos o futuro”. Mas a verdade, lógica, coerente, poética e histórica é exatamente o contrário. Não fosse assim e deveríamos jogar a história no lixo. Ou essa é uma contradição? Claro que não.
É a evidência que tentam camuflar para, como se pode dizer “livrar a cara”. Tomar o café da manhã como se não tivessem sido coniventes com o que há de pior, em todos os sentidos, entre eles a construção de um futuro que seja digno da expectativa que a palavra sugere. Para eles mesmos, neste caso, no sentido ético, de percepção humana, já que o café da manhã não lhes falta.
Como essa gente quer se livrar o passado, com pretensa postura otimista, quando o que pesa para eles é a estupidez de que são depositários? Com a astúcia de um gato e aqui os gatos me perdoem a comparação. A astúcia é um ato de valor, desde que não seja utilizada de forma indevida, coisa que os gatos não fazem. Mas que humanos manipulam com a habilidade de magos.
Hoje, um desses negadores do passado (uma mulher, devo esclarecer com o reconhecimento de que neste mundo circular a menor distância entre dois pontos é uma geodésica, não uma linha reta) entrou em uma pequena postagem minha com essa conversa-mole. Respondi com o óbvio.
Aquilo que Nelson Rodrigues chamava de “óbvio ululante”: Então devemos jogar a história no lixo?”, Confrontada ela se enfureceu. Me chamou de “esquerdista” como se isso fosse ofensa. Não é não, dona. É só uma simplificação da sua parte. Então, fiz o que deveria. Deletei e bloqueei. Mandei-a às favas. Ou às batatas.
Já perdi tempo precioso com quem não merece consideração.
Imagem da capa da postagem: Jacek Yacerka, surrealista polonês.

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