Por Marcílio Godoi –
As pedras anti-gente do prefeito Covas parecem a maquete de um cemitério medieval. Imaginei um mendigo olhando pra isso, pensando no investimento público feito exclusivamente pra negar a ele o uso do viaduto como teto pra se proteger da chuva que pode matá-lo.
Imaginei uma família de sem-tetos deitada por entre as frestas daquelas pedras, criando uma denúncia de maus-tratos, imaginei revoltar-me nas redes, insultando a monstruosidade do projeto higienístico dos tucanos. Imaginei até denunciar o prefeito eugenista numa corte internacional por desumanidade.
Mas não imaginei, confesso, pegar uma marreta e simplesmente ir até lá, consertar aquela desonra no braço, negar aquela afronta, dizer não ao autoritarismo desse gesto escroto, impedir a vergonha de ser morador de uma cidade com esse tipo de dispositivo fascista o mais urgentemente possível.
Obrigado, Pe. Júlio, por tentar recuperar ao menos um pouquinho da nossa lucidez e da fé em que ainda haja seres humanos entre nós neste país insano.