A Marcha das Margaridas é uma das evocações mais bonitas e simbólicas do movimento popular brasileiro. Construída por mulheres trabalhadoras, especialmente as mulheres do campo, a marcha evoca a memória da paraibana Margarida Maria Alves, sindicalista, assassinada a mando dos patrões com um tiro no rosto em 1983, em um dia 12 de agosto.
Neste 12 de agosto de 2015, cerca de 70 mil pessoas de todo o Brasil participaram da marcha em Brasília. A Globo News não mandou repórteres desde cedo informar, empolgados, que a “manifestação é pacífica”. Ou que “as pessoas estão cantando o hino nacional”. A abordagem foi o tempo todo para desqualificar ou diminuir o evento. Falou-se no estádio “cedido gratuitamente”, no trânsito parado nas vias próximas e a cobertura fotográfica foi canalha. Vejam, por exemplo, algumas fotos que o Grupo Folha publicou em seu site. As fotos daFolha estão à esquerda e à direita fotos do grupo Mídia Ninja. Parecem eventos diferentes. As da esquerda são fotos de uma manifestação esvaziada, claramente feitas nos horários de chegada ou de saída dos participantes. A ideia é passar uma imagem de um ato de poucos, mesmo que o texto registre milhares, pois a mídia hegemônica aposta justamente no poder da imagem para transmitir a mensagem principal (veja ao final mais belas fotos da marcha).
A vitória da primavera
Isso não é à toa. Esta é uma marcha de mulheres de luta, que em plena tempestade conservadora têm a coragem de levantar, bem alto, bandeiras em defesa dos direitos sociais e da democracia. Nossa apodrecida mídia hegemônica não poderia realmente dar a este digno ato a repercussão que seria merecida em uma comunicação livre das nuvens carregadas pela direita e pelo neofascismo. Diante disso, pode parecer que a luta das margaridas é vã. Porém, tempos ruins causam estragos, podem até fazer com que se perca uma lavoura, mas as margaridas continuam sempre florescendo, até que um dia a primavera termina inevitavelmente por vencer o céu nublado.