Por Carlos Eduardo Alves, jornalista, para o Bem Blogado
A campanha para fazer Tarcísio candidato presidencial já tem a adesão dos grandes grupos que controlam a mídia hegemônica brasileira. Não foi somente complacente com o governador a cobertura pretensamente jornalística da privatização da Sabesp.
A criminosa privatização da Sabesp, a maior empresa de saneamento do Brasil, sedimentou o que faltava para o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, ser adotado pela elite econômica como seu candidato para a eleição presidencial de 2026.
Tarcísio praticamente doou para um pré escolhido grupo empresarial uma estatal rentável, consumando um antigo desejo daqueles que sempre sonharam privatizar a água, um bem essencial.
Além da desfaçatez com que o processo rápido e suspeitíssimo foi concluído, deve despertar reflexão do campo popular a pouca atenção que o assunto despertou na população.
Pesquisas respeitáveis de opinião pública apontavam que a maioria dos consultados era contra a privatização da Sabesp. No entanto, não houve oposição de rua massiva para barrar a jogada entreguista do patrimônio público.
Isso é preocupante é só reforça a impressão de que existe de fato na sociedade uma espécie de normalização diante de absurdos. Mesmo os progressistas parecem depender unicamente do carisma e das ações do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Essa paralisia joga a favor da direita e ela, depois da inelegibilidade de Bolsonaro, joga hoje suas fichas em Tarcísio para tentar barrar uma nova reeleição de Lula.
No mundo ideal imaginado pelos barões, o atual mandatário paulista representa o bolsonarismo que sabe usar talher. Embora comungue da mesma ignorância sobre todos os temas relevantes, executa as barbaridades muitas vezes de modo mais silencioso.
A PM de Tarcísio promove massacres medievais acobertados pelo governador. O próprio Tarcísio lidera a luta genocida contra a utilização de câmeras acopladas ao uniforme de policiais em ação, medida que comprovadamente reduz muito a letalidade contra principalmente negros e pobres. Mas, como pensa a extrema-direita, negros e pobres são sempre suspeitos antes de tudo.
A campanha para fazer Tarcísio candidato presidencial já tem a adesão dos grandes grupos que controlam a mídia hegemônica brasileira. Não foi somente complacente com o governador a cobertura pretensamente jornalística da privatização da Sabesp.
A sonegação de informações sobre, por exemplo, o evidente conflito de interesses entre pessoas que transitaram nos dois lados do balcão que deveria separar grupo comprador e Sabesp, foi escandalosa.
Tarcísio, beneficiado pelo comportamento vil da grande imprensa, entregou a mercadoria prometida às aves de rapina.
Tarcísio é um bom candidato para enfrentar Lula? Cedo para saber, mas ele começa o jogo com algum cacife. Obedece cegamente a Bolsonaro, que tem inegável base popular, agrada a setores da direita que querem um bolsonarismo econômico sem as grosserias do genocida e, importante, aval da mídia que ainda é muito importante no Brasil, além, é claro, de mandar no cofre do Estado mais rico e populoso da Federação.
Provavelmente, não basta para derrotar Lula, mas, convenhamos, não parte do nada.
A partir de agora, começando pelas próximas e relevantes eleições municipais, convém reforçar o olhar vigilante sobre São Paulo. Por isso, será fundamental que o bolsonarismo em suas pequenas variáveis não triunfe não Capital do Estado.
A aliança do PT com o PSOL, articulada pelo presidente Lula, tem que ser capaz de mobilizar todo o campo progressista para reeditar a vitória que Lula e Haddad tiveram na cidade em 2022.
Construir um dique de contenção à extrema-direita em São Paulo atingirá diretamente os planos de quem quer reeditar o pesadelo que o Brasil viveu em passado recentíssimo. É hora de repelir o bolsonarismo com cara de civilizado. Não existe fascismo tolerável.