Por Zeca Ferreira, cineasta –
Dois homens sorriem enquanto exibem, quebrada, uma placa-homenagem à vereadora carioca Marielle Franco, barbaramente executada há alguns meses. A foto foi um marco na reta final da corrida eleitoral.
Os homens eram candidatos e foram eleitos, um deles com a maior votação do estado.
Marielle cumpria seu primeiro mandato como vereadora. Era negra, lésbica, oriunda de um dos maiores complexos de favela do Rio de Janeiro. Sua história de vida e de luta estava ligada à luta pelos direitos humanos.
Seu assassinato não foi nunca esclarecido mas o ministro de estado da segurança já falou publicamente que as dificuldades decorrem de ter havido a participação de agentes do Estado (mais que isso, ele fala em estrutura do Estado).
No dia seguinte a esse crime, circularam pelos grupos de whatsapp, montagens toscas e falsas tentando ligar Marielle a criminosos, contando com um entendimento torto mas amplamente difundido de que quem defende os DH, “defende bandido”. Uma estratégia de desconstrução conscientemente tosca e eficiente, à semelhança da campanha subterrânea que quase elegeu Jair Bolsonaro em primeiro turno.
A crise de humanidade que o país atravessa passa e muito pelo Rio de Janeiro. A chave, me parece, está por aqui.