Enquanto o país sofre com a pandemia e o desemprego, políticos sustentam Bolsonaro e promovem uma festança em Brasília

A Covid-19 continua a matar mais de mil pessoas por dia no Brasil. O total de óbitos chegou a 226 mil e os casos de contaminação sobem a 9,3 milhões. Em meio a essa tragédia, nossa classe política continua a mesma. Comporta-se com a alienação e o deboche de sempre. Na noite de segunda-feira, ao comemorar a vitória de Arthur Lira para a presidência da Câmara, mais de 300 pessoas se reuniram numa luxuosa mansão à beira do Lago Paranoá, em Brasília, com música ao vivo e bebida à vontade. Participaram do baile parlamentares e ministros, a maioria sem máscara. Motivo da celebração: “o governo agora será uma sociedade com o Congresso”.




A festança que só acabou às 4 horas da manhã é simbólica. A vitória acachapante do deputado Arthur Lira (PP-AL) representa a volta ao poder do Centrão, ou seja, do que existe de mais fisiológico na política brasileira. Foi construída à base da promessa de cargos e gordas emendas parlamentares feita por interlocutores de Jair Bolsonaro. Daqui para frente, a fatura será apresentada ao governo. Não importa se há déficit público ou se há necessidade de prorrogar o auxílio emergencial. A prioridade dos políticos do Centrão é o próprio bolso. Os que fizeram festa na madrugada de segunda-feira são vampiros dos cofres públicos. Para eles, vale o ditado “farinha pouca, meu pirão primeiro”.

Com Arthur Lira na presidência da Câmara e Rodrigo Pacheco (DEM-MG) no Senado, o Congresso dá as costas à opinião pública de forma definitiva. Sem pudor. Isso não vale apenas para a possibilidade ‒ agora bastante remota ‒ de abertura de um processo de impeachment. O achincalhe passará a ser rotina. Basta ver que em seu primeiro dia de gestão, Lira designou para a presidência da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara a deputada Bia Kicis (PSL-DF), que é investigada no inquérito das fake news que corre no STF. Responsável por analisar a constitucionalidade dos projetos, a CCJ terá no seu comando uma deputada negacionista que já defendeu a intervenção militar no país. E mais: ré por suspeita de participar do assassinato do marido, a deputada Flordelis (PSD-RJ) foi nomeada titular da Secretaria da Mulher. É um acinte!

Para a 1ª Secretaria da Mesa da Câmara, Lira escolheu o deputado Luciano Bivar (PE), presidente do PSL, que está se recompondo com Bolsonaro. O PT, que ameaçou entrar no Supremo caso não fosse contemplado com um lugar na Mesa Diretora, conseguiu emplacar a deputada Marília Arraes (também de Pernambuco) na 2ª Secretaria, que cuida das premiações, honrarias e passaportes diplomáticos. Não sei se valeu o esforço. É um direito previsto na Regimento da Câmara, mas tenho lá minha dúvidas se o PT deveria participar da gestão fisiológica de Arthur Lira. Se nós vivêssemos no sistema parlamentarista, só restaria ao PT ficar de fora.

Mas os costumes do Congresso fogem ao senso comum. A realidade lá é outra. Os representantes do povo têm alto padrão de vida. Ganham quase R$ 40 mil por mês. Têm direito a auxílio moradia, cobertura de despesas para exercício do cargo e verba para contratação de assessores. O custo final fica em torno de R$ 160 mil. Aos parlamentares que só olham o próprio umbigo e não têm compromisso com as causas populares, sobram motivos para fazer festas de arromba em Brasília. Mais ainda quando sabem que Bolsonaro vai premiá-los com cargos e verbas oficiais. Para os vampiros dos cofres públicos, o povo é apenas um detalhe.