Por Ulisses Capozzoli, jornalista, Facebook
Correndo atrás do tempo, se é que isso faz sentido, tenho dedicado os últimos dias ao encaminhamento de questões pessoais. E isso foi o que me levou ao banco hoje pela manhã. Odeio bancos mais que frango com quiabo, mas, eventualmente, tenho, como todo mundo, de engolir a conversa fiada do gerente como se fosse coisa consequente.
Os serviços bancários, que há um bom tempo deixaram de existir, agora se deterioram a cada dia. Acompanhando a desarrumação nacional que se vê ao longo das horas. No final da tarde, é pior que no começo da manhã, ainda que idiotas (ou cínicos?) de plantão insistam que “devemos torcer para dar tudo certo”, o que implica em chutar o traseiro da lógica.
Tenho apreço pela lógica, mas reconheço os seus limites. Deus pode criar uma pedra tão pesada que não possa carregar? Me parece um bom exemplo de limitação lógica. E o que começa, onde a lógica termina? No meu simplório entendimento, começa a estética. Mas, uma vez que escrevi sobre isso, recebi uma mensagem irada de uma médica de Belo Horizonte (ao menos foi como ela se identificou) confundindo a expressão criada pelo filósofo alemão Alexander Gottlieb Baumgarten (1714-1762) com procedimentos em um salão de beleza. Desisti de argumentar.
Não fui pedir dinheiro ao gerente, coisa que nunca fiz na vida. E estou vivo e inteiro, se não me equivoco. Aprendi com meus ancestrais anarquistas e com todos os anarquistas que pude ler, a enxergar com clareza os crimes praticados pelo dinheiro, o que faz dos bancos/banqueiros uma corja bem organizada de ladrões e trapaceiros.
O clima na agência onde tenho alguns trocados estava visivelmente agitado.
Gente entrando e saindo de uma sala com quadro negro (de ângulo que era possível observar) com gestos nervosos, risos curtos e artificiais. Alguém estava apertando os parafusos por ali e fazia isso com determinação. Ao menos nisso me senti aliviado.
Enquanto esperava o atendimento, li um parágrafo de Martin Wolf, articulista do “Financial Times”, que, talvez seja útil dizer, não tem nada de esquerdismo. Wolf argumentava que o “rentismo ameaça a democracia”, coisa com que estou de acordo e que também dá consistência à ideia de que bancos/banqueiros não passam de uma quadrilha.
Antes de teclar esse pequeno escrito para retomar contato com amigos do Face, de quem ando sentindo falta nesses dias de afastamento, passei os olhos pelo jornal. Imaginei que poderia encontrar uma reprodução do artigo do Wolf, que começara a ler no “Valor Econômico”, na agência do banco, mas nada disso.
Li, comecei a ler, uma tolice imensa escrita por um jornalista econômico veterano e senti pena dele. Como é possível que, a certa altura da vida as pessoas possam escrever tolices completas sem se dar conta? Ou fazer isso por dever de ofício? O que é pior: morrer na forca ou fuzilado? Não creio que seja um debate interessante de se fazer.
Tenho sabido, por certa disposição pessoal, de pouca coisa do que vem acontecendo nesta republiqueta em decomposição que neste momento se confunde com o Brasil. Mas mesmo esse pouco tem sido o bastante para deixar a impressão de que chafurdamos cada vez mais num terreno pantanoso que termina na areia movediça, de onde não há escapatória.
Um guarda de supermercado me confidenciou numa pequena cidade de Minas Gerais, ontem, que “a situação está ruim, mas ainda vai piorar. E muito”. Vou dizer o que, se penso a mesma coisa que ele desde o golpe de 2016 que teve tantos defensores.
Vi também que o dólar sobe como balão sem lastro, o que não é nenhuma surpresa. Que a economia tem cada vez mais redutores de velocidade e que os conflitos dentro do governo fazem inveja a Ali Babá e seus asseclas.
Me livrei do banco o mais rápido que pude. Antes que o gerente, de terno apertado na barriga, pudesse desenvolver a tese de que “as coisas estão difíceis, mas tudo isso já estava previsto na Bíblia”.
O cara do banco que apertava os parafusos na sala que só pude entrever, deve ter dado uma prensa nos miolos dele. Não que precisasse. Talvez tenha feito isso por pura precaução.
Imagem: Michel Cheval, artista surrealista russo.