A delação das delações

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“Quem conta um conto aumenta um ponto” (Ditado popular).

Por Antônio Carlos de Almeida Castro (Kakay), compartilhado de Construir Resistência




Os jornais deste final de semana noticiam que vários delatores da finada Lava Jato estão querendo anular seus acordos, até para tentarem reaver o dinheiro que pagaram.

Fui recentemente procurado por um desses arrependidos. Eu nunca trabalhei com delação, até por saber que Moro e o sua turma, Deltan e companhia, deturparam o instituto. Sempre denunciei tais abusos. Coloquei de maneira muito clara para o delator. Para que ele tivesse chance de rescindir o acordo, teria que dizer como foram as tratativas com os lavajatistas.

Alguns pontos fundamentais:

1. Eles exigiam que falassem de alguém, sugeriam nomes?

2. Eles indicavam advogados que eram da confiança da República de Curitiba?

3. Eles prometiam a liberdade para quem delatasse?

4. Eles usavam a prisão como pressão?

5. Eles perguntavam se era possível envolver o Lula ou outro político proeminente na delação?

6. Eles sugeriam que, se fosse delatado alguém do Supremo ou do Superior Tribunal de Justiça, fariam um acordo melhor?

7. É possível afirmar que eles perseguiam parentes para pressionar investigados?

8. Algum familiar da República de Curitiba tinha prestígio no momento da delação

9. Os procuradores mantinham o juiz informado das tratativas?

10. O juiz tinha algum tipo de interferência na negociação?

11. Como foram negociados benefícios não previstos em lei?

12. A cláusula de desistência dos meios de impugnação que já tramitavam perante o Poder Judiciário era colocada pelo MPF como condição para celebração dos acordos?

Esses pontos, entre outros, foram colocados como premissa para tentar a anulação.

Na última madrugada, após sair do desfile na Sapucaí, fui ao bar Jobi e lá fui abordado por um empresário que me abraçou, chorando, e me disse que estava muito arrependido por ter feito delação. Falou que deveria ter me ouvido e que sentia remorso profundo. Recentemente, em São Paulo, em um restaurante, um ex-cliente me abordou para dizer que tinha vergonha de ter delatado amigos e até parentes. E me disse coisas impublicáveis.

O interessante é que, nas duas noites nos camarotes da Sapucaí, fui abordado para fotos com, pelo menos, 40 estudantes e advogados e, impreterivelmente, todos exaltavam a nossa resistência aos abusos da trupe do lavajatismo.

Penso que é chegada a hora de passar essa história a limpo. Vamos fazer a delação das delações. O Brasil agradece. Afinal, como ensina o mestre Mário Quintana: “O passado não reconhece o seu lugar, está sempre presente”.

Antônio Carlos de Almeida Castro (Kakay) é advogado criminalista

Publicado originalmente no Estadão

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