A desfaçatez dos milicianos que chegaram ao Poder

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Por Carlos Eduardo Alves, jornalista, Bem Blogado

O aparentemente novo capítulo do caso Flávio Bolsonaro revela a miséria moral e política do Brasil. Uma “investigação” que se arrasta há quase dois anos e que, mesmo com tanto tempo para os criminosos apagarem rastros, fede cada vez mais. É muita sujeira junta, não há como jogar para baixo do tapete.




Que a família Bolsonaro está intimamente ligada a milicianos cariocas Polícia Civil, PF, MP e Judiciário sabem há décadas. Duas únicas perguntas sobram da trama que transforma um meliante como Fabricio Queiroz em astro do noticiário político: como é possível que as instituições compactuem com essa imundície e, também, como um País que se julga civilizado não reaja à podridão?

A primeira pergunta talvez seja mais fácil de responder. Infelizmente, pouco ou nada sobrou do que se chamava de instituições ou marcos civilizatórios no Brasil atual. É duro, muito triste mesmo, mas vivemos a fase lixo de nossa História. Corrupção e fascistização de entes constitucionais são a marca de hoje.

Temos uma Justiça que condena quem rouba por fome, para sobreviver, e acaricia criminosos de colarinho branco, além de legitimar todos os retrocessos possíveis, dos trabalhistas ao previdenciários. Aqui, a presidente do que sobrou da Justiça trabalhista, por exemplo, defende uma escravidão velada que retira direitos.

A decomposição moral do aparato policial e Judiciário consagra a demolição de valores republicanos mínimos. É cada vez mais espantoso o número de decisões de magistrados que remetem à Idade Média.

Onde estavam esses primitivos? Perdeu-se a vergonha de atropelar a Constituição e em seu lugar propagar pretensas virtudes de extrema-direita.

A segunda pergunta, sobre a falta de reação aos absurdos, é a mais difícil por ser a que exige a resposta mais dolorosa. Mesmo se comparado aos nossos vizinhos latino-americanos, dificilmente um povo adotaria uma postura tão passiva como nós estamos constatando agora.

Em qual país em estado normal se aceita que um presidente da República tenha vínculo escancarado com um miliciano como Queiroz? Em qual país se vê tão claramente a prática de corrupção de um gabinete da família presidencial e, pior, que convive com suspeitas muito fortes que o dinheiro público alimenta uma fábrica de matadores?

Em qual país com  mínimo de informação se suspeita em silêncio da existência de elo fático entre executores de uma vereadora e membros do clã no Poder e nada acontece? Mais uma vez infelizmente, só no Brasil atual.

É tão escancarada a patifaria nos negócios e práticas dos Bolsonaros que só uma elite primitiva como a nossa permite que essa decomposição moral persista.

A explicação para essa conivência entre os donos do dinheiro e os fascistas e corruptos é uma só: o vexame ambulante que ocupa a Presidência da República entrega aos poderosos o que eles querem, ou seja, uma agenda econômica que de retrocesso em retrocesso tenta agudizar os piores traços do neoliberalismo.

Na lógica empresarial atrasada do País, cria-se a necessidade de bancar Bolsonaro pela manutenção de um ajuste cruel comandado por Paulo Guedes.

Até quando o Brasil suportará ou, mais grave, o que sobrará de civilidade depois da passagem desse bando de gafanhotos de direitos sociais? É outra pergunta que hoje não permite muito otimismo.

Parece haver uma anestesia coletiva e, ao mesmo tempo, estranha. Afinal, ainda que seja um dado relevante o um terço da população que hoje endossa cegamente os absurdos, dois terços ou não concordam vivamente ou não dão cheque em branco para o fascista. Mesmo assim, as ruas estão silenciosas.

Haverá, é certo, um momento em que, como no Chile, o povo sairá às ruas para protestar contra o empobrecimento crescente diante de números falsos de prosperidade propagandeados pelo mercado. Mas, por incrível que pareça, nossos gafanhotos têm mais fome para destroçar tudo.

Por enquanto, é torcer para que os crimes dos milicianos amigos acordem o um terço que está quieto. É pouco aparentemente, mas pode ser a gota d´água que transborde o copo da indignação contra os milicianos que chegaram ao Poder.

 

 

 

 

 

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