A desgraça e os cabeças brancas

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Por Carlos Eduardo Alves, jornalista, para o Bem Blogado – 

O ano termina com mais péssimas notícias para os brasileiros. Foi o pior Natal em vendas e empregos dos muitos últimos anos, desaba a confiança da indústria (lembra, é aquela que seria retomada automaticamente com a queda de Dilma?), os direitos sociais vão sendo ceifados um a um, o Judiciário dá mostras que vai amaciar para os limpinhos da Lava Jato, etc.




Com tanta notícia ruim e falta de perspectiva para evitar o aprofundamento da crise, é evidente que eleições diretas e gerais representam o único caminho para evitar que a coisa piore e se torne um caminho sem volta. Mas para isso precisamos falar também de tarefas e condições no campo popular.

Um argumento que chega a ser vergonhoso, para a esquerda, é que não se deve lutar por Diretas por uma diagnosticada impossibilidade de alguém do campo popular triunfar, tamanho o descrédito da esquerda hoje. Chega a ser torpe por, ao cabo, preferir entregar conquistas de quem já tem pouco em nome de um oportunista “quanto pior, melhor”. Mas existe um problema de fundo, sim, que aflige os progressistas. Perdeu-se a juventude, pelo menos aquela grande parcela que dava vida aos partidos.

Em quase toda reunião, manifestação e atos públicos contra o golpismo e suas políticas o que se vê são os cabeças brancas, gente que vem da sofrida luta pela redemocratização do País. Há exceções, claro, mas o quadro etário seria imaginável, pouco tempo atrás, para eventos de direita.

Quem presta atenção nas últimas manifestações da esquerda, pelo menos nas ocorridas em São Paulo, tem uma constatação mais dura ainda: o absoluto enfado com que os jovens que lá estão “suportam” os longos discursos de sindicalistas.

Ficou chateado ao ler isso? Lamento, é verdade. A causa pode ser a mesma ainda, mas a antiga fórmula cansou. Não se faz aqui juízo e valor, se esse fastio é justo ou não. É apenas constatação.

Existe no mundo esse cansaço. As novas fórmulas de exploração do trabalho e até de difusão do conhecimento diminuíram e muito o poder das antigas estruturas sindicais.

Não é uma triste doença tropical. A Europa de tantos avanços civilizatórios é o retrato desalentador das piores idéias. A saída? É difícil, muito, claro. Se fosse fácil, o golpe não teria sido o passeio que foi contra uma presidente eleita legitimamente e que não cometeu crime de responsabilidade.

O novo mundo de menos trabalho e de busca individual pela sobrevivência (enganando quem pensa poder achar a riqueza) exige um esforço intelectual brutal de elaboração. A luta de classes, a esquerda e a direita não morreram, mas o mundo, oh, obviedade, mudou.

No campo eleitoral prático, quem além de Lula poderia se apresentar com chances reais de ganhar uma eleição em 2018 no campo popular? Hoje, ninguém, E, não sejamos de Taubaté, evidentemente já está encomendada a inelegibilidade de Lula, já em seus adentrados mais de 70 anos. Quem o PT tem para concorrer com viabilidade?

Insistindo no patético discurso de Jaques Wagner, o que ganhou um relógio caríssimo da Odebrecht e candidamente minimizou o fato com um “ganhei mas não usei”? Com um Ciro Gomes bom de fala mas abrigado em partido em que metade de seus parlamentares votam na PEC que acaba com direitos sociais. No PSOL de cirandeiros bem-intencionados e alguns bons quadros mas liderado sempre pela lamentável Luciana Genro?

Existe ainda a turma da “horizontalidade” ou autonomistas”. São os que chamavam Haddad de fascista e, por falta absoluta de informação de muitos, e esperteza de outros, apelavam ao sucesso do espanhol Podemos. Só esqueceram de avisar que o Podemos optou definitivamente pela via institucional para tentar chegar ao Poder, assim como a extrema-esquerda grega.

Enfim, depois da rifa dos 20 anos de direitos sociais mínimos, do atropelo de leis trabalhistas e outras atrocidades, o Brasil vai entrar na mãe de todas as batalhas: a da Previdência. É ela que atingirá diretamente o cotidiano dos pobres. É a mais cruel ponta do chicote no lombo de quem precisa mais de Estado.

E é necessário ter um discurso que prepare a ação contra a atrocidade. É possível, mas com palavras e números que provem que não tem sentido Paraíso algum que dependa da morte de muitos.

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